Em uma sociedade na qual o individualismo é muito forte, alguns jovens com ideais anti-capitalistas resolvem invadir mansões onde, claramente, moram pessoas altamente abastadas. Esses jovens não roubam nada; apenas mudam os móveis e os objetos de lugar, os reposicionam de modo bizarro e deixam um bilhete onde se lê: “Seus dias de fartura estão contados!” A intenção não é vandalismo, mas criar um desconforto e instabilidade àqueles que profetizam de um sistema econômico que visa ao bem-estar apenas para poucos. O problema começa quando os jovens são surpreendidos por um executivo, o proprietário de uma destas mansões, e os jovens são obrigados a seqüestrá-lo. Isolando-se em uma cabana se desenvolve um interessante diálogo entre as mentalidades capitalistas e marxistas, entre a ânsia de um mundo mais humano e a acomodação de quem vive privilegiado no atual sistema. Esta história é contada pelo excelente filme do alemão Hans Weingartner, “Os Edukadores” (Edukators) que aprecia o que o ser humano tem de melhor e revitaliza ideais de luta pela justiça relembrando valores que devem hoje ser, com urgência, resgatados.
Como todo ser de nosso universo, nós humanos vivemos na polaridade entre ato e potência. Estes são elementos que possibilitam a existência e o desenvolvimento de todo ser finito. Através da dinâmica entre ato e potência existe a possibilidade do tornar-se, do vir a ser. Todo ato constitui-se na realização da potência e esta na real possibilidade do ato. O ato é a visualização de toda a potência e possui em si uma quantidade de perfeição, ou seja, a potencialidade de estar em constante aperfeiçoamento. Por sua vez, a potência pode ser ativa ou passiva. Ela é passiva quando possui a capacidade real de receber um ato e ativa quando tem o poder de provocá-lo. A potência ativa exterioriza através de atos todo tipo de fazer (pensar, movimentar a mão, etc.) e com este normalmente transforma seu universo (uma pintura, a construção de uma casa, etc.). Toda potência compreende um ato, pois pela lei de causa e efeito todo ser surge de um outro ser. Como também, para toda a potência ativa existe uma passiva, ou seja, diante de toda ação existe uma recepção: o ensinar compreende obrigatoriamente o aprender. Para Tomas de Aquino ato é sinônimo de realidade e potência de possibilidade. Para todo ser, durante o seu existir, sempre se coloca a questão: ser ou não poder ser, transformar-se ou não transformar-se, realizar ou não sua potência em ato. Uma pedra possui como potência o tornar-se uma estátua. Se um escultor a lapida, ela atinge através de um ato a forma que possuía em potência. Apesar de ser estátua, sua existência não cai na estagnação, mas continua a ter uma possibilidade: tornar-se pó. Potência é o que está contido na matéria e pode vir a existir, se for atualizado por alguma causa. A criança é um adulto em potência, a semente uma árvore. O ato é a atualidade da matéria, isto é, sua forma num dado instante do tempo; o ato é a forma que atualizou uma potência contida na matéria. O adulto é o ato da criança, a árvore é o ato da semente.
Para Kierkegaard, ato constitui-se no próprio agir da pessoa humana, ou seja, ele é todo fazer, no qual o ser humano é totalmente ele mesmo ou através deste se realiza como pessoa. Somente através do ato o ser humano está aqui ou existe realmente; por isso, o ato humano pode ser chamado de “ato existencial” ou simplesmente de “existência”, afinal, o existir nada mais é que a realização sucessiva de atos. O ideal para todo ser humano é que seu ato venha a ser realizado através de sua vontade. Graças a sua natureza racional, o ser humano deve ter condições de se desenvolver interagindo com seu universo em liberdade. O que ele é e pode ser, porém, podem sofrer alterações por fatores sociais, econômicos ou psicológicos. O desafio do ser humano constitui na superação destas dificuldades e na realização, em uma possível liberdade, de sua potência. Apesar de todos os condicionamentos e dificuldades que o meio lhe apresenta, em última instância, depende do ser humano o quanto ele se realiza, como ele se realiza e o que ele realiza como pessoa. O fundamental é compreender que sua existência está na esfera dos atos. São os atos que determinam e definem o existir humano. Nenhum ser humano vive em uma realidade de sonhos, fantasias ou devaneios. Nós nos definimos principalmente nos atos concretos que realizamos ou deixamos fazer. Neste sentido, o provérbio latino “Age quod agis” (faze o que fazes), nos recomenda a concentração necessária na realização de nossos feitos para que a empreitada tenha êxito. É importante a reflexão sobre nossos atos, pois deles dependem nosso presente, futuro e o que será nossa história de vida. Muitos atos, porém, nunca são isolados. Muitos deles possuem repercussões no coletivo e ajuda na construção de uma história social. Para o bem ou para o mal, o ato de mais interferência na vida é o político, pois afeta a vida de todos, interferindo na organização da sociedade. Que possamos realizar muitos atos conscientes, que eles sejam a atualização de belíssimos sonhos e que cada vez mais nossos atos possam influenciar positivamente o nosso coletivo.