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A vinculação das migrações com o meio ambiente traz, ao mesmo tempo, uma severa advertência. Se confirmados os efeitos do aquecimento global, em breve espaço de tempo acontecerão, inevitavelmente, as migrações climáticas , como advertiu o famoso sociólogo belga Padre François Houtart em sua intervenção na abertura do Fórum.

Em todo o caso, uma coisa é evidente: a humanidade nunca constatou tantas mudanças climáticas em tão pouco espaço de tempo. O sintoma mais evidente é o degelo polar e o derretimento das geleiras nas montanhas.

A urgência de estender a todo o mundo os benefícios equilibrados do desenvolvimento encontrou, nos fóruns até agora realizados, uma expressão utópica, em forma de anseio pelo estabelecimento de uma cidadania universal . Lançada no primeiro fórum das migrações realizado em Porto Alegre, a idéia vai tomando consistência, ao mostrar que os direitos de qualquer pessoa não decorrem do lugar onde ela nasceu, mas de sua própria condição humana.

O Fórum denunciou com veemência os muitos muros que estão sendo construídos, como tentativa inglória de impedir as migrações ou ignorar suas causas. O mais escandaloso deles é o muro de milhares de quilômetros que os Estados Unidos estão erguendo em sua fronteira com o México. Mas além dele, existe o mundo entre judeus e árabes, os muros que demarcam as fronteiras dos enclaves de Ceuta e Melila no norte da África, e os muros das embarcações que tentam impedir a entrada de africanos no continente europeu. Não é construindo muros que se resolve o problema dos migrantes, mas diminuindo as desigualdades entre os países, e fortalecendo a solidariedade entre os povos.

Outro desafio é a integração dos migrantes. Não basta fazer como a Inglaterra, que os cataloga, os diferencia, e os mantém segregados. A humanidade precisa encontrar os caminhos de sua progressiva integração racial. Neste sentido, surpreendeu a colocação de Sami Naïr, cientista político francês, ao apontar o Brasil como o exemplo mais promissor de integração racial, pela mestiçagem aqui realizada. E não duvidou em desafiar a Europa, para que se torne um imenso Brasil , através da progressiva integração dos migrantes em sua população.

Em todo o caso, não faz mal perceber que temos um recado importante a dar ao mundo, apesar de nossas desigualdades sociais: nossa válida experiência de integração racial. Sem esquecer as condições históricas em que ela se realizou.”(20.09.2008)

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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