foto Aurelio Molina entrelaços

Sem dúvida, as vacinas representam um dos maiores avanços na atenção à saúde. Seu impacto positivo para humanidade é quase incomensurável e inúmeras doenças infectocontagiosas, causadoras de milhões (talvez bilhões) de mortes, sofrimentos e sequelas ao longo de nossa história só foram controladas (e muitas erradicadas) com o advento deste poderoso instrumento preventivo. Entretanto, como em qualquer intervenção na área de saúde (ou de aplicação de tecnologias), ela vem acompanhada de riscos de maleficência. Aliás, um dos fatores responsáveis pela criação da Bioética foi a clareza, na década de 70 do século passado, que o avanço tecno-científico tinha potencial para destruir nossa biosfera (incluindo aí, claro, os seres humanos) e, até mesmo, o próprio planeta. Se restringirmos nossa análise unicamente à Ars Curandi (que está em processo de transformação para se tornar a Arte do Cuidar) veremos que esta preocupação não é nova e está presente desde os tempos de Hipócrates, que cunhou (ou inspirou) a máxima latina “Primun Non Nocere” (primeiro não lesar, primeiro não fazer o mal, primeiro não ser iatrogênico), pois a história da medicina está repleta de insucessos trágicos como na campanha contra a esquistossomose no Egito, em 1920 (onde seringas mal esterilizadas foram responsáveis pela disseminação de hepatite C), na “Tragédia de Bundaberg”, Austrália, 1928 (em 36 horas, depois de receberem uma vacina contra a Difteria contaminada com Estafilococos Aureus, 21 crianças adoeceram e 12 morreram pela Síndrome do Choque Tóxico), no “Desastre de Luebeck”, Alemanha, 1930 (dos 251 recém-nascidos que receberam BCG oral nos primeiros 10 dias de vida, 75 morreram de tuberculose e 137 apresentaram tuberculose clínica), no episódio da vacinação contra febre amarela, Estados Unidos, 1942 (50.000 soldados americanos desenvolveram “hepatite ictérica” três meses após a vacinação sendo que 62 morreram e 300.000 foram contaminados com o vírus da hepatite B), na “Tragédia de Kyoto”, Japão, 1948 (68 mortes por detoxicação incompleta da vacina antitetânica), no “The Cutter Incident”, Estados Unidos, 1955 (nos 2 meses seguintes à vacinação contra poliomielite, em escolas primárias de 5 estados americanos, 40.000 adquiriram a doença, 200 crianças tiveram paralisias e 6 morreram) ou no “Fiasco da Gripe Suína”, Nova Jersey, Estados Unidos, 1976 (o pânico causado pelo medo de uma epidemia de gripe, levou a vacinação em massa da população resultando em 500 casos da Síndrome de Guillain-Barré, com 25 mortes), entre muitos outros episódios menos famosos. Sem falar na polêmica (mas extremamente relevante) teoria sobre a origem da AIDS envolvendo a vacinação oral contra a poliomielite ao longo do Rio Congo, na África. Portanto, com tantos exemplos de “Quando a Ciência dá Errado” é mandatório sermos coerentes com o paradigmático “Principio Bioético da Precaução” que nos exorta a valorizar riscos potenciais, nos lembrando (sempre) que “a ausência de evidência de riscos não significa evidência de ausência de riscos” e que nunca existirá nenhuma intervenção 100% segura, inclusive porque sempre existirão riscos desconhecidos (são inúmeros os casos de medicamentos que são retirados de circulação, anos após sua comercialização, por efeitos colaterais inesperados). Minha opinião é que a utilização de vacinas durante a gravidez, num país como o Brasil, não se justifica e não deve ser realizada, apesar de aceitar que possam ser feitas em alguns contextos de exceção e muito específicos. Mas, a vacinação de mulheres grávidas no primeiro trimestre é inadmissível e deveria ser considerada como um agravo ético e bioético e, principalmente, proibida imediatamente. Em verdade, seus riscos potenciais e consequências são de tal magnitude que seu uso nesta delicada e vulnerável fase fetal de embriogênese deveria ser considerado como assunto de segurança nacional.

(Publicado no Diário de Pernambuco, 05/01/2016, página a9)

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciência e de Medicina.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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