Dênis Athanázio 15 de agosto de 2016

denis a temperança

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https://denisathanazio.wordpress.com/

Não sei se essa palavra é muito popular nos dias de hoje. Resumidamente, denominamos temperança como a característica da pessoa que consegue equilibrar suas próprias vontades, extintos.

Algumas propagandas nos dizem para jogarmos tudo para o alto e vivermos sem fronteiras. Depois nos vendem sofás macios para não sairmos de casa. Outras, na praia e com mulheres de biquíni, nos estimulam ao máximo a comprarmos cerveja e em seguida, em letras minúsculas, avisam que temos que beber com moderação. E aí? O que fazer?

O meio termo, a harmonia e a sensibilidade passam por uma linha tênue entre a agressividade e a brandura, entre o silêncio e o som, entre o tudo e o nada.

Muitas pessoas acham que a postura radical em qualquer vertente da vida é para os fortes. Outros pensam como “aquele indivíduo consegue viver tão parado e com uma vida tão regrada? Ou ser tão passivo em tudo o que faz? Acho que a forma mais difícil de se viver não é nenhuma dessas. Complicado mesmo é caminhar entre esses dois mundos, no “meio”, ou, como disse Clarice Lispector, sobre ela “Sempre conservei uma aspa à esquerda e à direita de mim”.

Entendo que uma das belezas da música está nas notas de preparação que anunciam o gran finale do principal momento da composição. No futebol não presto tanto atenção no gol do goleador e, sim, no jogador que conseguiu enxergar o futuro para, no agora, dar um “presente” de passe para o atacante ficar na cara do gol.

Posso ser considerado uma cara do tipo estranho, mas gosto mesmo é de estar no ciclo da vida naquele momento do “depois saída e antes da chegada”.

O equilíbrio e a medida certa das coisas não são fáceis de se conseguir, ou melhor, de se conquistar. É necessário sutileza e percepção. Ser sexy sem ser vulgar, ser romântico sem ser meloso, se impor com certa agressividade sem ser mal educado, dar atenção a alguém sem sufocá-la e saber respeitar os momentos de solidão do outro. Nesse sentido é sempre mais fácil agir sem temperança. Conheço pessoas que se orgulham e dizem: “Comigo é assim: Chego chegando e derrubo tudo, doa a quem doer” ou, “Quando não é para fazer, não há pessoa no mundo que consiga me tirar do lugar”. As guerras, a falta de diálogo, a intolerância e a inércia doentia sempre andam por esse percurso do “ Ou tudo, ou nada.”

Sim, realmente acho que viver é perigoso, como bem disse Guimarães Rosa. E que também precisamos de sabedoria para viver. Até porque não é sempre ou (quase nunca) que conseguimos equilibrar as coisas na dose, no tempero e precisão certos. Não existe receita pronta, mas fazer uma autoanálise sempre é bom. Com o tempo e talvez com algumas cicatrizes no corpo, você poderá se tornar uma pessoa mais interessante, uma companhia mais agradável, aprenderá a escolher quais batalhas deve entrar. Saberá temperar a vida do mesmo jeito e precisão que sua avó consegue temperar o frango, e, que, por mais que você tente, nunca fica igual ao dela. Mas ficará com o sabor que você der a ele.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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