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“Mens sana in corpore  sano” – diziam os romanos – “mente sadia num corpo  sadio”. O esporte, praticado com equilíbrio mental e no respeito às exigências da ética, é fator de crescimento  moral e saúde do corpo e do espírito.

A história da origem dos Jogos Olímpicos é controversa. Segundo a lenda, teriam surgido  por volta do ano 2500, antes de Cristo, motivados pelo desejo do deus Hércules de homenagear seu pai Zeus, deus supremo da mitologia grega. Mas o que a história nos diz mesmo é que os primeiros jogos olímpicos aconteceram em 776 a. C. na cidade de Olímpia, para dar uma trégua às contínuas guerras e conflitos entre as cidades-estados do mundo grego. Olímpia tem a ver também com Olimpo, a morada dos deuses, que eram jovens, sadios e, em geral, de boa aparência.

Com a dominação romana, foram proibidas as manifestações do culto grego e em 392, da era cristã, um decreto do Imperador romano Teodósio I proibiu os Jogos Olímpicos, pelo seu caráter religioso.

Em 1896, surgiram as Olímpiadas da era moderna. Foram disputadas em Atenas para uma homenagem às Olimpíadas gregas, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, barão de Coubertin. Participaram 285 atletas de 13 países.  As disputas foram inicialmente: atletismo, esgrima, luta livre, ginástica, halterofilismo, ciclismo, natação e tênis. Hoje são muito mais.

São impressionantes os números dos XXXI Jogos Olímpicos a serem disputados na Cidade do Rio de Janeiro de 5 a 21 desse mês. Serão disputadas 28 modalidades esportivas, com a inclusão do rúgbi de sete e do golfe. Esperam-se cerca de 10.500 atletas, de 206 nacionalidades e prevê-se, pela televisão e pelo rádio, uma audiência de mais da metade da população da terra, isto é, cerca de 4,5 bilhões de pessoas ao redor do planeta.

A grande imprensa está toda ocupada na brilhante realização das Olimpíadas do Rio, cuja inauguração, na sexta-feira, 5 deste mês, encantou o mundo e cobriu de glória o Comité Olímpico brasileiro, pela perfeição da realização e deslumbramento das apresentações. A alma nacional ficou lavada de alegria diante do mundo, após tantas notícias tristes do nosso país pela corrupção e roubalheira, que atingiram figuras notáveis da República.

Entre as provas tradicionais está a maratona. A feminina será no domingo, 14 de agosto, e a masculina, no domingo seguinte, 21 deste mês. A maratona celebra o heroísmo do corredor grego Feidípides, que em 490 a. C., por ordem do general Milcíades, correu os 42 quilômetros da planície de Maratona para Atenas, a fim de levar a notícia da vitória grega sobre os persas, pagando com a vida seu esforço hercúleo e seu patriotismo.

Mas em 30 de abril de 2004, uma sexta-feira, na Terra, que os cristãos chamam de Santa, mas na qual a violência desde o início deste século já fez milhares de vítimas mortais, realizou-se também uma Maratona toda especial. Chamou-se a Maratona da Paz. Trinta pessoas apenas, entre europeus, israelenses e palestinos, se puseram a correr, não contra um cronômetro, que assinalasse um vencedor, coroado de louros e premiado com uma medalha de ouro, mas sim contra o nosso tempo, feito de guerras e violências, de terrorismo e massacre de inocentes. Saíram de Jerusalém (“cidade da paz” em seu significado etimológico) para Belém (“cidade do pão”) que, há dois mil anos atrás, também presenciou um massacre de inocentes, bem menor do que os atuais.

Os corredores desta original Maratona traziam todos numa camiseta de várias cores a palavra PAZ, escrita no peito em italiano ou hebraico moderno ou árabe. Passavam desarmados diante dos fuzis e metralhadoras apontadas para eles. Sua música, a dos tênis sobre o asfalto, era sua única arma, junto com a alegria de seus corações. Se a Paz é um dever de todos, eles colocaram a seu serviço suas forças, suas mentes, seu suor nos dez quilômetros que separam Jerusalém de Belém, duas cidades sagradas para os cristãos.  Mas aqueles poucos, naqueles poucos quilômetros, atravessaram um abismo imenso de incompreensões, ódios raciais, vinganças cruéis, mortes violentas e dramas já quase seculares.

Os israelenses não citam a palavra Palestina, nem os palestinos citam Israel. Os israelenses não puderam chegar ao ponto final. Deviam voltar do chamado “check point”. Os palestinos não partiram de Jerusalém,  mas de um ponto político, chamado fronteira militar. A maratona não teve grande publicidade prévia por razões de segurança. Mas nos olhos dos espectadores dos balcões, das estradas, das lojas, dos ônibus e automóveis, podia ver-se a alegria dos que finalmente apreciavam uma manifestação de paz, de amor, de compreensão mútua daqueles dois povos antagônicos. Correram acompanhados pela sirene da polícia de trânsito e pelos jipes cheios de fotógrafos e jornalistas. Corriam acompanhados sobretudo de uma intensa emoção; corriam com a convicção de que estavam realizando algo de útil e positivo em favor da suspirada paz naquela terra.

O jornalista Antônio Mascolo, da Gazeta de Módena, da Itália, um dos participantes, declarou: “Não esqueceremos jamais aquela corrida. Aquele enxame de camisetas coloridas, com o apelo da Paz no peito, fez pela concórdia e pacificação dos espíritos muito mais que mil encontros políticos.”

E pode-se perguntar: “E o que foi feito depois, em termos de paz, para aquela terra abençoada, que Jesus percorreu, pregando a compreensão e o amor?”

As próximas Olímpiadas serão realizadas em Tóquio, no Japão, em 2020 e as últimas foram em 2012, em Londres, no Reino Unido. Sempre com a distância de quatro anos, conforme a tradição helênica.

E os custos desse mega-espetáculo? Estudo divulgado pela Universidade de Harvard em 2014 – informa o Boletim Salesiano – estimou que os custos são, em média, 252% a mais do que aquele que foi inicialmente previsto. Como exemplo, a Universidade cita que os Jogos de 2012 custaram aos cofres britânicos 18 bilhões de dólares, embora tenham sido previsto antes gastos na ordem de cerca de 6 bilhões. No caso brasileiro, vai haver um aumento expressivo pela necessidade das ações policiais e de inteligência anti-terroristas.  E ao final, quem  vai  pagar essa conta? O povo, é claro…

Obs: O autor é  arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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