1 de agosto de 2016
– a propósito de fazer da casa um Centro Cultural
- Nestes dias, numa revista de história, um autor definia “novas ideias”, como a evolução ou o desenvolvimento de uma proposta já em curso, como se fosse sua ampliação. Diferenciava de “ideias novas” que para ele, representam uma revolução porque mexem na estrutura do tradicional, convidam a uma adesão e são, antes de tudo, uma aposta, um desafio, um risco.
- Em geral, as pessoas recebem bem as “novas ideias” por sentir que podem significar um avanço e até um benefício. Em todos nós, talvez por cultura, habita um espírito conservador que nos faz preferir o comum e rotineiro do que mexer com o que está quieto… Nos custa apostar, sair da zona de conforto, entrar em conflito ou parecer “estranho”…
- Já as “ideias novas”, de imediato, provocam entusiasmo nos visionários e idealistas, e resistência e desconfiança, em pessoas ditas racionais ou mais vividas. Em si, as duas atitudes, embora contraditórias, devem ser vistas como normais e, quem sabe, até complementárias. Pois, são as tensões e contradições que geram o movimento e produzem as transformações.
- Transformar um espaço familiar em Centro Cultural é “ideia nova” porque sai da mesmice, do senso comum – o patrimônio não segue o “legal”, o que todo mundo faz. Difícil e conflitivo é investir numa proposta que propõe manter um espaço afetivo como memória dos pais, como ponto de coesão familiar maior que os laços de sangue e, além disso, ser um serviço à comunidade.
- A “ideia nova” funciona na empresa privada porque a novidade desce como ordem e se impõe pela coerção. Na empresa solidária, porém, o caminho exige adesão voluntária e acertos coletivos construídos. Se na primeira funciona pela manipulação e pela força, na cooperação o projeto é forjado no convencimento e construído na paciência impaciente e na rapidez sem pressa.
- Quando existe afinidade explicita, funciona o voto de confiança porque há pré-condições e pré-disposições. Se a ligação é só de sangue, o conservadorismo fala alto e, resiste às argumentações da “nova ideia”. Quem anima deve projetar, propor metas e prazos e não temer quem discorda, mas quem se cala – não se sabe o que calado quer: não opina, não explicita suas razões.
- Ao aclarar objetivos e sensibilizar pessoas sobre a “ideia nova”, se aprende muito. Mas, no processo de convencimento, o “contato” virtual é insuficiente e a votação é ritual ineficaz, útil só em caso de emperramento. A conversão ao novo vem pela pregação pessoal – a não ser funcionários, ninguém executa ideias que outros planejam. A intenção é perder o menos possível de pessoas.(14 de Julho, 2016)
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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