[email protected]
http://ronaldoteixeira.arteblog.com.br/
http://ronaldo.teixeira.zip.net/
http://lounge.obviousmag.org/espantalho_lirico/
(para Clarice Lispector – 1925/1977)
Na invenção do hoje
instauro meu futuro
e encontro a medida do silêncio
na escrita.
Continuo não possuindo sentido,
essa rebelde veia que teima em pulsar.
Porque vi que a vida é,
mesmo continuando sem resposta,
continuar perguntando.
É domingo,
esse dia oco feito eu
que sou antes,
sou quase, mas nunca sou.
Sina de pescador mentiroso
que insiste na isca-palavra
lançada no abecedário
para morder a entrelinha.
Esbarro-me diante das coisas
para não me ultrapassar,
porque sei que, além de mim,
desse não-ser, só há solidão.
Apesar de saber também
que o que vai ser já é,
ermo, nessa escuridão completa
na busca de mim mesmo.
E que o momento do divino
chega até para o descrente,
quando o desespero o toma
e um ato religioso reveste
a ausência do Deus.
Sou antimoderno
porque só o estranho me alcança.
Pintura, palavra e vida,
só estranhando-as consigo me conter.
Desconfio que o verdadeiro pensamento
não tem autoria,
porque só ele revela
nossos encantos e assombros coletivos.
Sigo temendo Deus,
essa criação monstruosa,
porque, além do seu tamanho monstruoso,
sua totalidade é demais para o meu tamanho.
e, vez ou outra,
iscando o verso
no vão da palavra
lá, onde também reside, calada,
a verdade última
que nenhum de nós ousa dizer.
Obs: Imagem enviada pelo autor(ilustra: http://imgsapp.impresso.em.com.br)