Meu primeiro contato “de verdade” com Belém se deu em outubro de 2003.
Naquela época, para mim, o centro da cidade ficava na rodoviária. Era onde eu chegava, era por onde eu saía… enfim, era meu porto seguro. Naturalmente eu me hospedava em qualquer uma daquelas espeluncas que proliferam à sua volta.
O entorno do terminal me intimidava, com seu fluxo incessante de pessoas, a presença maciça do comércio informal de todos os gêneros, os pontos de ônibus sem início nem fim, o lixo e os mendigos espalhados por todos os lados… e o sol e o mormaço inclementes a me afetar o juízo! Só depois de alguns anos morando em Belém pude compreender que aquela movimentação toda (que tanto me assustara) era, em parte, devida aos preparativos para o Círio de Nazaré. Muita gente chegando, muita gente comprando, a maniva cozinhando e os patos no corredor da morte… Algo inconcebível para quem não vive aqui.
Aquele foi um período de mudanças marcantes em minha vida. Vinte e tantos anos de idade, recém-chegado à Amazônia, emprego novo, afetos em crise, sem casa, sem carro, sem telefone, sem internet, sem câmera… Era hora de virar adulto. Com tantas questões altas e nobres e lúcidas, quase nada foi fotografado. Mesmo assim, as lembranças são muito vivas. Tanto que, ainda hoje, ao fechar os olhos, sou capaz de experimentar as mesmas sensações instigantes da novidade de outrora. Os cheiros, o calor nos miolos e o frio na barriga, o medo de não-sei-o-quê, e a ânsia por respirar o mundo inteiro de uma só vez.

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Obs: Fotos do autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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