Lila Costa 15 de julho de 2016

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Sempre gostei dos antigos comerciais de sabão em pó. Roupas muito brancas, distribuídas no varal por tipo e tamanho:  lençóis, toalhas de banho, fronhas, toalhas de rosto, etc, etc. Lindo de se ver.  Sempre tudo muito branquinho, uma beleza.

Quando fui para o colégio, estudar o antigo ginásio , hoje fundamental 2,   o colégio ficava em Vitória de Santo Antão, que faz parte do grande Recife. Era o famoso  Colégio Nossa Senhora das Graças, de freiras,  Damas da Instrução Cristã, até hoje, ainda existente . Funcionava em  regime de internato e externato, nós éramos externas, minha irmãs, eu e algumas amigas de infância. Foi o melhor período da minha vida.

Gostava de ver aquela quantidade enorme de roupa branca, eram muitas meninas internas. Então a quantidade de lençóis, toalhas de banho, fronhas, etc. era bastante grande. Não lembro de nenhuma roupa colorida. A minha atenção era aguçada pela beleza da roupa branca.

No colégio tinha um bosque, no qual existiam:  um açude, cheio de patos, casa de coelhos, uma capelinha, na qual sempre rezava e agradecia as boas notas, não  podia ser diferente, era uma boa aluna. Algumas fruteiras, mangueiras que produziam mangas deliciosas.

Certo dia nos ocorreu um fato bastante embaraçoso, era período de provas, assim ficamos liberadas mais cedo, todavia não podíamos ir para casa pois morávamos fora da cidade, tínhamos que esperar o ônibus da Escola Agrícola, aonde residíamos, a uns 18 KM de Vitória de Santo Antão,  vir nos buscar. Então resolvemos ir para o Bosque, chegando lá encontramos em cima de um banco de cimento, umas mangas, não tinha mais ninguém além de nós, minhas irmãs, eu e as minhas amigas de infância: Telma, Laura e Vera, que eram da minha turma. Não titubeamos, pegamos as mangas, deixamos as nossas bolsas em cima do citado banco e fomos chupá-las, no setor das pias perto dos banheiros,  elas estavam deliciosas. Mas qual não foi a nossa surpresa quando voltamos para buscar as nossas bolsas,  estas não estavam no local onde as deixamos. Irmã Ida, a responsável pelo bosque, as escondeu  para descobrir quem   tinha levado as mangas. Como vêem não tínhamos nenhuma experiência na “arte de furtar”.  Já estava quase na hora do nosso ônibus chegar  e a irmã não queria nos entregar as bolsas, suplicamos, prometemos nunca fazer isso,  só assim ela as devolveu.  Ufa! Que sufoco.

Existia uma cerca que separava a área onde ficava os varais e o bosque, de lá eu via aquele mar de roupa branca tremulando, tal qual “bandeiras agitadas”,  lindo!!!

Até hoje quando vou colocar roupas no varal, coloco por cor, tipo e tamanho e não me canso de admirar   a beleza da disposição. Acho que fica mais fácil, quando for recolhê-las para  passar a ferro e depois guardá-las, segue uma  sequência, que só facilita.

Ao comentar tudo isso passo a idéia de ser uma pessoa bem organizada, isto não é verdade, esta não é a minha principal característica. Todavia gosto de rituais. Determinadas tarefas só as executo  seguindo uma sequência, como por exemplo lavar louças, lavo primeiro os copos, depois os pratos,  distribuo os por tamanho no escorredor, os maiores atrás e os menores na frente, para evitar o escorredor virar  com o peso. No escorredor dos talheres, o mesmo processo, colheres  em um compartimento, as demais peças em compartimentos separados. Facilita quando for enxugá-los para depois guardá-los. Só sei começar a lavar se a pia estiver arrumada, nada misturado. Acho uma atividade relaxante e sempre me faz lembrar da nossa infância.  Desde pequenas fomos introduzidas por mamãe nas tarefas domésticas. Éramos seis  filhos, três meninos e três  meninas. Os maiores tomavam conta dos menores. Se  não tivéssemos ajudantes em casa, principalmente as meninas iam ajudar mamãe. Gostava mais das tarefas da cozinha, até hoje gosto de cozinhar. Acho uma atividade carinhosa, cozinhamos para quem gostamos e o que o outro gosta. No geral, recebemos elogios quase que imediatamente. É muito gratificante.

Sempre chamo a atenção de quem está trabalhando aqui em casa, para o detalhe da organização, de como arrumar a louça na pia. Digo-lhes, principalmente para estimulá-las que foi mamãe quem nos ensinou e é verdade. Tento despertar nelas o gosto pelo que estiverem  fazendo, pois toda tarefa tem sua importância. Contudo está no inconsciente coletivo delas que as tarefas domésticas são amaldiçoadas, não tem valor e que tornam inferiores as pessoas que as executam. Todavia este é um tema para um próximo texto.(Olinda, 05 de julho de 2016.)

Obs: Lila Costa  (Suely Telma Vieira Costa)   é Membro da Academia de Letras de Escada – AELE e da Academia de Letras e Artes  de Moreno – AMLA.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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