nei nas lutas

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“O mundo do conhecimento dá uma guinada louca quando os próprios professores são ensinados a aprender”. (Bertold Brecht, 1898-1956, poeta e dramaturgo alemão)

As inverdades precisam ser denunciadas e reparadas (refiro-me a texto de David Coimbra: http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/david-coimbra/noticia/2016/06/procura-se-quem-nao-lute-5979496.html). Não é verdade que não precisamos de pessoas que lutam. Muito antes, pelo contrário. Na sociedade contemporânea, como sempre foi na história da humanidade, o mundo está em disputa. Os ideais de ser humano, mundo e sociedade estão sempre sendo disputados. Quem organiza o mundo são as ideias, as ideologias. Por isso mesmo, permito-me pensar que, neste momento histórico do Brasil e da educação brasileira, os estudantes secundaristas estão ensinando mais do que aprendendo. Os professores da rede pública deveriam, no meu modesto entendimento, dispor-se para aprender com eles.

Testemunho, como professor e educador, ao acompanhar os adolescentes que ousaram ocupar suas próprias escolas, que ainda podemos “esperar” muito da juventude. Esperar vem de esperança. Esperança para mim sempre é compromisso ativo e não passivo com as mudanças que precisamos fazer, coletivamente. Como estes mesmos afirmam, “nós acordamos e não vamos dormir de novo”. O que estes esperam de nós adultos, é o reconhecimento de seus protagonismos e dos seus potenciais criativos e críticos para mudar o mundo.

Como sempre, não é maioria dos estudantes e nem dos professores que se dispõem a lutar pelas melhorias e pela qualidade social da educação pública. No entanto, a maioria silenciosa (esta que apenas vota pelas paralisações e ocupações) autoriza estes poucos a representá-los. É claro que não precisaria ser assim. Bom mesmo é se todos aqueles que concordam com as causas em questão fossem capazes de se desafiar a estar junto, a ser solidário na presença e na organização das lutas. Mas não é assim que acontece!

Alegro-me quando consigo perceber que razão tinha nosso grande pedagogo Paulo Freire ao afirmar que “a educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo”. Mas entristeço-me quando vejo que querem tolher a liberdade do professor (ao proibir que o mesmo possa expressar suas opiniões políticas, sociais e religiosas) e a autonomia da escola numa perspectiva libertadora e emancipatória, através de leis embasadas numa ideia de “escola sem partido”.

Na essência da democracia, está a liberdade de expressão e de pensamentos. Como tornar a educação neutra? Ela sempre estará a serviço da manutenção do “status quo” ou estará a serviço da emancipação humana. Por isso mesmo, acredito que professores que lutam também educam. Não lutam para fazer seguidores nem para doutrinar alunos, mas lutam para que todas as expressões, crenças e ideologias possam ser apresentadas e discutidas no espaço mais democrático da construção da saber que é a escola. O mundo e conhecimento não são homogêneos, mas são frutos da diversidade que encerra o universo humano.

Os estudantes tem razão quando afirmam que “no momento que aprendem, também ensinam”. Ensinam muito para a gente quando ousam afirmar que estão descobrindo o mundo e a realidade como ela é. Ensinam quando reclamam espaço para dizer-se. Na função de educadores, deveríamos reconhecer os estudantes como sujeitos aprendentes, assim como a gente. Como disse Paulo Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.

Obs: Imagem enviada pelo autor : Crédito da foto: Ingra Costa e Silva
O  autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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