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Ah! Quantas saudades dos tempos de minha meninice. Transbordávamos de alegria nesta época. Morávamos num bairro residencial tranquilo, quase santo: A Madalena.

Mamãe nos ensinara que neste mês a igreja católica homenageava três santos: São João, São Pedro e Santo Antônio, este era casadoiro, pois as moças que não quisessem ficar solteiras, deveriam fazer algumas “simpatias ” que lhes trariam um príncipe encantado. Era uma esperança só, às vezes, apenas gargalhadas. Dizia que no dia 13 às igrejas ofertavam o” pãozinho de Santo Antônio” para que não faltasse jamais alimentos nos lares. Eu tinha uma admiração especial por ele. Pequenina e esperta, desejava casar e me regozijar com todas aquelas guloseimas dos céus. 

A doçura e delicadeza de mamãe nos encantava. Sentíamos nas nuvens, viajando num mundo quase irreal. Explicava-nos que as festividades tinham origens diversas. Da França, herdamos a famosa quadrilha, uma dança marcada, característica típica do dançar dos nobres em salões nos quais dois pares estavam a bailar: “quadrille”; de Portugal e da Espanha o legado fora também uma dança cuja vestimenta era bem vistosa e cheia de fitas e da China, o soltar fogos, devido à manipulação da pólvora para este fim; no Brasil cada região tinha suas peculiaridades, mas o Nordeste se sobressaía nas crenças e folguedos. Era o momento de agradecer as chuvas, devido às épocas secas.

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Qual uma fada, minha mãe transformava tudo em beleza e delícia. Uma magia que não entendíamos. Os bolos eram tão fofinhos, as canjicas e os pudins tremiam, as pamonhas, o arroz-doce e o pé-de-moleque tinham um sabor que jamais encontrei depois de sua ida aos céus.

Nosso irmão mais velho tinha o poder de nos surpreender e nos presenteava com roupas típicas, chapéus e fogos. 

Ao mais novo cabia um verdadeiro “santuário” junino repleto de fogos de todos os tipos. Ele, espertamente, à tardinha, colocava-o em cima de um banco atrás da árvore frondosa da calçada e vendia ou trocava com os amigos da sua idade. 

Eu recebia apenas estrelinhas, traques de massa, considerados pouco perigosos. 
Enquanto os forrozeiros tocavam para abrilhantar a festa, a fogueira lançava suas faíscas de diferentes matizes e os milhos eram assados na horinha, sempre com o sabor de quero mais. Um espetáculo ingênuo e dos deuses, ou melhor, dos santos!!!

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Após este ritual, a quadrilha começava, a festa ganhava seu ápice. As gargalhadas eram muitas, sobretudo na hora do casamento quando o “cabra da peste” não queria se casar e tentava fugir, sendo apanhado pela polícia e convencido pelos amigos. A noiva entrava em desespero e, lá fora, sozinha, isolada, a fogueira ia perdendo seu fogo, suas chamas, seu brilho e a vontade de viver. Pobre é triste fogueira.

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Obs: Imagens enviadas pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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