Lug Costa 15 de julho de 2016

Partir da periferia eclesial para compreender a fé vivida no meio dos pobres e codificá-la em discurso reflexivo requer do teólogo um esforço de aproximação da realidade, que o conduz a fazer uma experiência da pobreza de Deus, manifestada na simplicidade de gestos e falas onde a racionalidade é filtrada pelo sentimento.

Nesta tarefa eclesial o teólogo torna-se o porta-voz dos ensinamentos e prática evangélica testemunhadas pelos pobres comprometidos em vivenciar sua fé na periferia do mundo.

Poderíamos dizer que a teologia procura um novo “locus” para poder falar de Deus para os homens e mulheres pobres e ricos do mundo atual? O mandato apostólico de Jesus “ide e anunciai” determina a condição da teologia: deverá sempre ser uma teologia peregrinante. O olhar teológico busca no coração do mundo os preferidos de Deus: os pobres, os marginalizados. Portanto, não se trata de pensar uma teologia no meio dos pobres que repete e cristaliza afirmações a-temporais, muitas vezes destituídas de significado por causa de uma linguagem arcaica e indecifrável para o povo, mas que entrando na vida, nos desejos e sonhos do mundo dos pobres, expressa de modo simples e acessível a experiência do Deus presente na caminhada desse povo, que o conduz para a libertação redentora.

A teologia não pode se instalar numa cátedra, fixar seu princípio arquitetônico na inflexibilidade de uma determinada filosofia, mas deve acompanhar o crente na sua caminhada histórica e está aberta a todos os desafios e questionamentos, que a mutabilidade constante da realidade impõe à sua fé.

Uma teologia peregrinante é uma:

– teologia desinstalada, está sempre à procura do humano para revelar na “imagem e semelhança de Deus a manifestação do divino;

– teologia transparente, que possui uma dimensão política comprometida com a causa dos pobres e excluídos;

– uma teologia dialogante, que estabelece um diálogo construtivo com outras manifestações religiosas do povo;

– uma teologia dogmática, que supera a tendência relativista das visões de Deus da pós-modernidade;

– uma teologia consciente dos limites de sua pretensão epistemológico de conhecer toda a realidade de Deus;

– uma teologia falante, que utiliza categorias lingüísticas compreensíveis ao ouvido do povo;

– uma teologia em contínuo esforço de conversão ao mundo dos pobres, vestida de todas as cores e raças.

Toda a tradição teológica milenar da Igreja é indispensável para que estes novos passos ensaiados pela teologia no continente latino-americano, de modo particular após o Concílio Vaticano II, dê continuidade ao esforço (muitas vezes até incompreendido e perseguido) do mutirão de homens e mulheres que constroem juntos o saber e pensar teológico em terras ameríndias.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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