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Toda moeda tem duas faces e cada face tem dois lados. Assim também toda realidade aparece com duas, ou até mais explicações. Uma delas é a aparente, outra é a real.

Pois bem, os projetos de ajuste econômico e social do atual governo interino de Michel Temer, tem se revelado com dois lados. Um é o que dizem seus ministros e ele próprio, o outro são as consequências nas vidas dos brasileiros/as. Quando fazem aprovar um generoso reajuste salarial para funcionários públicos federais, elevando o salários para até 39 mil reais, eles dizem que isto já estava previsto no governo anterior. Mas quando  querem cortar recursos para o SUS, Minha Casa minha vida entre outros benefícios dos trabalhadores, apenas dizem que é por causa da crise financeira do país.

Nesta semana que passou, ocorreu outro exemplo de proposta de governo com dois lados, o dito e o não dito. Foi a tal audiência pública sobre a criação de novos portos federais no Pará, para garantir a exportação do agro negócio para o mercado internacional. Alegam que até daqui a quatro anos, o escoamento de grãos pelo Estado do Pará crescerá 160 por cento, passando dos atuais 8 milhões e meio de toneladas, para 22 milhões de toneladas ano. Para isso, justificam a construção de novos portos em Santarém e Belém.

O outro lado dessa proposta portuária é a forma de enfiar goela abaixo na população, a invasão de território para construção de novos portos. As comunidades locais não são consultadas. Tanto é que a tal audiência pública realizada em Santarém na quarta feira passada, teve quase ninguém dos movimentos sociais, dos sindicatos de trabalhadores e estudantes. Isto porque o convite chegou em cima da hora e a audiência foi mais para justificar perante a legislação. Mas os projetos de novos portos já estão definidos pelo órgão federal. Assim justificam os portos graneleiros de Miritituba, e agora querem fazer com novos projetos de portos dentro da cidade de Santarém, nos bairros Área Verde e Pérola do Maicá.

Essa conversa fiada de que esses empreendimentos vão trazer muitos empregos e desenvolvimento para a região é pura enganação. Na realidade, são violentas usurpações de território das populações locais, como tem sido a ampliação dos armazéns da multinacional Cargill, que expulsou os esportistas dos bairros da Vera Paz e invadiu sítio arqueológico. A isso se chama ditadura do capital sobre os direitos dos moradores da cidade. O mais triste é que isso acontece com manipulação de informações, com subserviência das autoridades municipais e interesses de especuladores e oportunistas de momento.

Mas na semana que passou, porém, houve algo bom acontecendo. O Comitê  em defesa do igarapé do Urumari realiza mais uma ação positiva. A romaria das águas começou  no meio da semana e está sendo concluída nesta manhã. Tem sido uma luta constante do movimento popular, com apoio da paróquia Cristo Libertador e Pastoral da juventude. Distribuíram uma cartilha ambiental com as crianças nas escolas do entrono do igarapé e hoje estão fazendo a retirada de lixos sólidos de dentro do manancial. Este é um dos lados da história, o outro lado é a falta de responsabilidade do poder público, da Secretaria de Meio Ambiente, que não manifesta preocupação em salvar os igarapés que correm dentro da cidade e vilas vizinhas no Eixo Forte. Essa indiferença pública se manifesta também nos casos dos lagos Mapiri, Papucu e Juá, todos agredidos pelos esgotos de empresas que lançam seus resíduos sem cuidar da preservação.

A ditadura do capital continua esmagando  a natureza e humilhando os moradores das comunidades.

Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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