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Novembro, 2005

Sempre gostei muito de livros. Ler, escrever esteve entre minhas atividades prediletas. Isso foi tão marcante na minha vida que em 2001 resolvi abrir uma livraria – a Domenico Livraria. Funcionou de março de 2002 a março de 2004. Lidei com autores, editores, artistas, mestres da área.  Eram ministradas no auditório da Domenico cursos, palestras, oficinas. Mas havia um em especial que me despertava uma inveja – saudável, é verdade. A inveja de ver o Mestre e seus pupilos conversando sobre a arte das palavras. A Oficina Literária Raimundo Carrero.

O dia-a-dia da livraria me consumia as horas e impedia que mergulhasse naquele universo mágico. Mas como em tudo na vida, aconteceu na hora certa. Ao fechar a Domenico, bateu uma vontade enorme de escrever. Era compulsivo, um caos se instalou em meu ser e tornou-se inevitável. Ou escrevia ou a morte. Meio trágico assim, mas que descobri, no primeiro dia de aula na Livraria Nobel, Agosto de 2004, ser essa mesma dor, agonia que todo escritor passa. Então as torneiras se abriram, e jorrou de tudo. Minha vida, angústias, questionamentos. E com toda a paciência de um sábio, Carrero foi me guiando, ensinando o caminho das pedras, um caminho tortuoso na maioria das vezes, em que somente o autor pode descobri-lo, fracasso e glória própria.  A eterna orgia.

Dezembro de 2004. Antologia – livro coletânea de diversos contos, alunos da Oficina Raimundo Carrero, Editora Bagaço, Recife, Pernambuco. A constatação de que é possível, existe uma luz realmente no fim da teimosia nas palavras. Não havia mais volta, minha sina estava traçada, desejava mais do que tudo na vida. Escrever, escrever, escrever. Participei com o conto “Lentes Cor-de-Rosa”. Nessa mesma época recebi o convite de minha família e a idéia do jornalista e consultor cultural Ênio Lins de escrever uma biografia – escolhi que fosse romanceada – do meu avô, em homenagem ao seu centenário, aconteceria no ano de 2005. Além do prazer em fazer meu primeiro livro, existia uma missão maior que era unir a família em torno de seu patrono, por isso também o Memorial, a Fundação, com a participação de Carmem Lúcia Dantas, museóloga, Wilma Nóbrega, bibliotecária, Roseane Torres, psicóloga, Gisela Abad, designer gráfica.

Novembro de 2005. O livro está pronto. Ele é meio o que vejo, meio o que sou. Vivi o eterno sofrimento de lapidar, levar o ferro ao torno, moldar, lutando contra inimigos inexoráveis: o tempo, o aprendizado do ofício e a maturidade artística.  Escrito em prazo menor que o ideal (seis meses sendo dois meses para cada etapa, entrevistas, escrevendo,  revisão), fiz a escolha de sacrificar a perfeição em detrimento do presente que gostaria de dar para ele, “O Major”, meu querido avô, em 05 de Novembro de 2005 – data de seu aniversário. O meu melhor presente – o que podia, tinha condições no momento.

Mas o maior presente de todos, sem dúvida alguma, foi minha volta à casa paterna. O ser humano só é pleno, inteiro quando retorna às suas raízes, quando descobre a quem pertence, aceitando as diferenças, orgulhando-se do mesmo sangue, raça, obstinação, teimosia, força. Fé. Abraçar minha família, pais, irmãos, primos, tios não tem, jamais terá preço. É um prazer único, para sempre carregado em lugar especial de meu mais que íntimo âmago.

E a meu avô, o Major José Tenório, presente em cada mínimo instante dessa minha primeira viagem no mundo das palavras…

patricia major

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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