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Havia um país que diziam ser gigante pela própria natureza. Eis que adveio sobre ele um tempo de ditaduras e torturas. Sucedeu outro tempo, o da dita redemocratização, entremeada com o aprofundamento das políticas neoliberais. A história também reservou um momento em que se falava que a esperança tinha vencido o medo. Porém, tanto a esperança quanto o medo e outros sentimentos seguiram espalhados por todos os lados. A esse país que pensava estar avançando em marcha célere com sua democracia e com a justiça social em construção, sobreveio um tsunami de acusações e casos de corrupção.
Nesse contexto, surgiram operações que operaram em relação a alguns e não em relação a outros que estavam nas mesmas ou semelhantes situações. Houve ritos de toda ordem, ordenando a uns a condenação antes do julgamento e a outros a absolvição contra qualquer acusação. Depois o tempo foi ficando mais turbulento, tenebroso, instável e insustentável. Já não se podia mais falar abertamente o que se pensava acerca de política e economia com quem quer que seja. A censura foi feita em cima da intolerância e do ódio. Os meios de comunicação orquestravam tudo. Os maiores regiam muito mais.
Enfim, chegou o dia que muitos nunca queriam que tivesse chegado e que outros queriam em muito ter adiantado. Nesse dia, entraram pela garagem. Podiam também ter entrado pela porta dos fundos ou pelo telhado e o significado seria o mesmo. Entretanto, entraram pela garagem do palácio e roubaram o poder… Levaram-no para outro palácio como uma tocha olímpica. Aliás, os tempos eram “olímpicos”. Não demorou e ele retornou com todos os seus “masculinos atletas brancos”. Houve muitos brados de protestos, gritos contra o “golpe”, mas eles não deram ouvidos.
Agora se fala apenas da “ponte para o futuro”. Pretende-se simplesmente apagar o passado recente, asfixiar a democracia e muitos direitos sociais conquistados a duras penas. O presente é utilizado com a maior rapidez já vista para dar golpes contra os mais pobres e indefesos. Tudo em nome de fazer esse país voltar a “crescer”, ter “ordem” e “progresso”. A mídia, aquela mesma que vinha fazendo orquestras pela desocupação do palácio, agora simplesmente blinda todas as ações e as consequências das ações protagonizadas pelos que assaltaram o poder.
Muitos estão estarrecidos com o que se anuncia a cada dia. Trata-se de uma espécie de guerra, com choque e pavor, sem permitir que os habitantes desse país afetados diretamente com as intervenções políticas possam analisar, compreender e reagir. Tudo se articula com a lógica da garagem. Nesse caso, da garagem do assalto. E o que farão os habitantes dessa casa/país que se sentem lesados ou trucidados? Irão habitar debaixo da “ponte do futuro” ou serão capazes de “fazer a esperança vencer o medo”? Só o tempo dirá… Porém, quem sabe faz a hora…. não espera acontecer! (20.05.2016)
Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia.