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As crescentes manifestações por mais qualidade e por mais valorização dos principais sujeitos que fazem a escola pública leva-nos à reflexão sobre a qualidade que deve ser buscada e perseguida para a mesma. Revela, também, necessidade de atentarmos para o papel que a escola pública deveria exercer para contribuir com o desenvolvimento humano e social da maioria da população brasileira.

As greves e paralisações dos professores Brasil afora revelam a luta pelo reconhecimento profissional que os mesmos foram perdendo ao longo das últimas décadas. Para estes, a educação não é um fim, mas é meio para estimular e projetar no imaginário das crianças, dos jovens e dos adultos as condições subjetivas, materiais e sociais para que cada um conquiste sua vida e sua felicidade. Por isso mesmo, professores reclamam condições materiais e subjetivas para que possam exercer função de alimentar esperanças para a superação da vida sofrida da maioria de seus estudantes e de toda comunidade onde atuam através da escola. Reclamam apoio para implantar propostas pedagógicas que considerem a organização dos sujeitos para a conquista dos direitos e construção de sua dignidade.

Os adolescentes e jovens que ousaram ocupar suas próprias escolas para denunciar o descaso dos governos e exigir mais atenção à qualidade de sua aprendizagem são “os mesmos que sempre mantiveram seu inconformismo e sua disposição de mudar o mundo”. A novidade é que se apoderaram da internet e das redes sociais para comunicar suas mensagens e ideais, mas descobriram também que a organização em defesa de direitos só tem força com a união e a organização coletiva. A internet e as redes sociais os conectam, mas a força organizativa está na reunião, na ocupação do espaço, na convivência concreta dos sujeitos, na manifestação inteligente e organizada.

A qualidade na educação não é a mesma reclamada e perseguida por organizações corporativas, industriais e comerciais. A qualidade social não se ajusta aos limites, tabelas, estatísticas e fórmulas numéricas que possam medir um resultado de processos tão complexos e subjetivos que esperam da escola a mera formação de trabalhadores e de consumidores para os seus produtos. Qualidade social da educação mede-se pelo envolvimento, participação, satisfação e atendimento das necessidades da comunidade escolar e de toda população do entorno das escolas. Estas necessidades incluem que a escola seja lugar de boa aprendizagem, de boa socialização, de assimilação dos conhecimentos universais e humanitários e centro (referência) de conhecimento e convivência socialmente válidos e reconhecidos para o bem da vida comunitária e social.

Escola pública de qualidade social é escola onde toda a comunidade se sente sujeito e responsável pelos processos educativos que nela acontecem. Como afirma Maria Abadia da Silva, doutora em educação e professora na UNB, “a escola de qualidade social é aquela que atenta para um conjunto de elementos e dimensões socioeconômicas e culturais que circundam o modo de viver e as expectativas das famílias e de estudantes em relação à educação; que busca compreender as políticas governamentais, os projetos sociais e ambientais em seu sentido político, voltados para o bem comum; que luta por financiamento adequado, pelo reconhecimento social e valorização dos trabalhadores em educação; que transforma todos os espaços físicos em lugar de aprendizagens significativas e de vivências efetivamente democráticas”.

Escola pública de qualidade social ainda não é realidade; será mais uma conquista de toda sociedade brasileira (ou daqueles que entenderem a importância de que ela exista).

Obs: o autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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