Betto Santos 15 de junho de 2016

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Ontem fui tentar fazer o tempo parar, ou ao menos me fazer parar de senti-lo. Numa mesa de um boteco qualquer, jogar conversa fora e o tempo também. Essa estória de tempo é sempre intrigante. Vivemos reféns dele o tempo todo e queremos sempre controlá-lo, mas é, sem querer ser repetitivo, sempre impossível.

E no meio de toda essa reflexão desordenada, vem à tona o tema dos dez anos. O que estávamos fazendo a dez anos? Chegamos à conclusão de que nem sonhávamos que estaríamos ali, naquele contexto e vivendo as coisas que estamos passando. A sensação de que não controlamos nossa vida, nosso destino, era latente. E não demorou muito para surgir uma nova questão: onde estaremos e o que seremos daqui a dez anos? Considerando, é claro, que estaremos vivos.

Mais do que a frustrada trajetória do passado ou o caos do presente, a imprevisibilidade do futuro é o que realmente me trouxe pânico. Como caminhar sem saber nada do próximo passo? Viver parece ser algo impossível, e só conseguimos por não nos darmos conta disso. Penso que a ignorância é o que torna a vida possível. Ou quem sabe desespero mesmo, instinto de sobrevivência.

Planejamento, cálculos, estratégias… Todos esses valores enraízam-se no nosso intelecto para satisfazer nosso imenso ego, e nos dão a ilusão de termos algo sobre controle. Inútil! Nunca sai como planejamos e, na maioria das vezes, ignoramos nossa incapacidade e colocamos a culpa no destino. Mas ventura age sobre as coisas que dão errado e, sobretudo, sobre as que dão certo. Mas nunca reconhecemos isso e sempre achamos que o acerto advém do planejamento, dos cálculos, das estratégias. Quando na realidade tudo que o nosso raciocínio consegue fazer é vislumbrar o maior número de possibilidades e aos nossos sentimentos cabe a tarefa de torcer por uma.

A vida é caótica. E a única certeza que podemos ter é que tudo que tem um começo terá um fim. Depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim. Mas eu não acho que seria mais proveitoso (no sentido que o termo tinha antigamente) que as pessoas tomassem consciência de sua incapacidade perante a ação. Talvez seus egos não suportassem tal renuncia e elas parassem de agir. Situação que não tornaria nada melhor, pois, a não ação é uma escolha e, por conseguinte, uma ação. Apenas deixaríamos de assistir as cotidianas apostas da vida, o nosso cara ou coroa diário.

Um viva às conseqüência não premeditadas da ação! E vamos voltar aos planos do amanhã…

http://bettosantos.blogspot.com

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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