Ina Melo 1 de junho de 2016

ina melo despedida de paris

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Depois de uma longa temporada na França retorno à Paris esta doce e fascinante cidade que tanto me fascina. Hoje decidi que teria Paris só para mim. Estamos em novembro com ventos e um pouco de frio, apesar do sol brilhar na limpidez do céu azul sem nuvens. Acordo cedo e passo num salão de beleza para arrumar o visual, quero me sentir jovem e linda. Saio caminhando pelas ruas movimentadas e vou em direção ao Jardim de Luxemburgo, onde cumprimento sorridente os velhos e frios habitantes do Olimpo que ali habitam, todos meus conhecidos de longos anos. Apesar do frio muita gente aproveita o dia de sol. Estou embriagada sem ter uma gota de álcool no organismo. Leve, corada e feliz, eu sou uma porção de amor entre as centenárias árvores e as belas flores desse Jardim. Apanho um ônibus e vou em direção às Tulherias, outro belo recanto dessa cidade onde misturamos o ontem e o hoje numa sinfonia de luz e cor. Daqui, sigo de “riquixá” o mais novo e romântico meio de transporte usado pelos muitos imigrantes que tentam por aqui sobreviver. O condutor é um beduíno jovem e sorridente. Fecho os olhos e penso estar no deserto mais civilizado do mundo. Conversamos e rimos. O que não sei. A felicidade é algo contagiante, posso constatar, pois todos me olham com um certo ar de cumplicidade. Por que estou feliz? Questiono? Sei que algumas das pessoas que me veem neste momento gostam da imagem da quase velha senhora, arrumada dos pés a cabeça, como se fosse uma verdadeira parisiense! Paris é Paris, tem esse dom! Ela me transforma e me torna múltipla. Em mim aqui, existem várias mulheres, todas apaixonadas pela vida e pelo amor. Hoje confesso, não sei qual delas gostaria de ser. Eu sou assim: leve, sem amarras, medos e tristezas. Aqui nesta famosa avenida eu poderia chorar por não poder comprar um “chic” Chanel, pérolas e esmeraldas! Mas me pergunto: Para que? Se estou viva e posso olhar as vitrines, sentir ar parisiense e saborear uma taça de champanhe com morangos no elegante Fouquet´s. Isto para mim é saber viver! O tempo passa e ignoro a sua velocidade. É quase noite. Desço a bela avenida em direção ao Blv. St. Germain. No táxi, um simpático senhor português, sente pelo “faro” ou pela pronuncia, que sou brasileira. Aí sim é uma festa. Depois de um dia em colóquio com o meu eu interior, solto o verbo, e o melhor, no meu idioma. O percurso foi longo, demorado e prazeroso mas como não tenho pressa, nem encontro marcado, sigo exercitando a minha voz. São sete horas da noite e uma chuva fina ameaça cair. Estou no Café de Flore um dos mais charmosos e tradicionais de Paris, que escolhi para um drink antes do jantar. Um alegre garçon veio em minha direção e pergunta se estou só. Com um sorriso outonal, afirmo e sou encaminhada para uma pequena mesa. Escolho um “Bordeaux”. Sorridente ele aprova, quase batendo palmas. As pessoas se queixam deles, mas comigo é sempre assim, talvez por não me sentir nem importante ou poderosa e respeitar a sua opção de vida de trabalhar para curtir um mundo melhor. Sou apenas uma mulher feliz numa noite chuvosa em Paris. Vou encerrar o meu dia jantando no Le Procope, antigo e charmoso restaurante. Volto a pé pelas bruxuleantes avenidas, sentindo o afago da chuva fina que cai sobre o meu rosto. Eis a minha despedida de ti Paris, cidade linda que me faz muito feliz. Até a próxima vez, se Deus assim o permitir. (Paris/Novembro de 2012)

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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