E então, já não importa a poltrona.
Olhar a asa do avião algum dia me pareceu aterrorizante. Pode imaginar? Nem eu!
Hoje, acho que deixo um pouco de mim em cada plataforma, em cada saguão. Ou será que já me deixei inteiro por aí? É que ultimamente tenho me sentido leve, um tipo de leveza preocupante, de quem não se importa com coisas que um dia considerei importantes.
Estranho isso? Um pouco né? Quem sabe esteja amadurecendo além do que a vida exigiu?
É, pode ser isso. Mas quer saber? Pouco me importa o que seja. Olhar agora para essa asa que parece flutuar nos céus chega a me dar um certo conforto. Já não temo mais o destino, de tanto que o enfrentei. Que se cumpra. Continuarei sendo o personagem favorito da história da minha vida.
Penso agora, nesse segundo, que enquanto solto em imenso céu, cobrindo parte do meu caminho, alguém morre de fome, é assassinado, sofre desilusão, cumpre pena suprema talvez por ato banal, trai ou sofre a dor da traição, corre contra o tempo sem nem mesmo viver cada momento, vive suas dores sem se deixar contemplar a vida.
Cheguei a conclusão que somos feitos de sortes e acasos, por mais que tentemos escrever nossos destinos.
Talvez esteja na idade da contemplação. Às vezes observo as pessoas, o mundo, a correria dos dias e acho tudo tão banal, tão inferior ao que alguém um dia me prometeu. Ou ninguém me prometeu nada? Sei lá. Talvez eu mesma não tenha cumprido minhas promessas. Errei o caminho e deixei no piloto automático, só para ver onde vai dá. Com lapsos de arrependimento, vez por outra volto a assumir minha posição, mas tudo começa a parecer tão igual…
Bem, acabo de chegar ao meu destino (um desses qualquer). Deixo aqui meus delírios de enfermo sadio. Em algum lugar alguém espera por mim. É assim que deve ser.
Vou vivendo nas plataformas da vida. Um dia de cada vez, tendo nos céus essa pequena guarida.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
Imagem enviada pela autora.