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I – Ascensão: Jesus fez sua parte e se foi. Agora façamos a nossa!

Lucas 24,46-53
Quantas vezes, ao longo de nossas vidas, já dissemos a oração que Jesus nos ensinou, o PAI NOSSO? E os primeiros pedidos dessa mais importante das orações são:
– para que o nome do Pai seja “santificado”, isto é, respeitado por nós seus filhos e filhas…
– para que o Reino do Pai “venha a nós”, isto é, venha, aqui e agora, para nosso espaço de existência, nosso chão…
– e para que sua “vontade” seja feita “assim na terra como no céu”, sim, porque ele só reina, verdadeiramente, lá onde sua vontade á cumprida… E é para ser cumprida aqui, nessa terra, como é perfeitamente cumprida no céu. Sendo assim, o destino dado por Deus à nossa terra, é que ela vire um céu!

Por isso mesmo é que aqueles homens vestidos de branco disseram para os apóstolos que não ficassem olhando pra cima, para o céu… Jesus subia para o Pai, estava desaparecendo dos olhares deles… Agora era chegada a hora de arregaçar as mangas e sair em missão!

A partir daquele momento, começava o tempo de exercer, na terra, nossa cidadania celeste:
– sairmos por todos os cantos, em nome de Deus, o Pai, denunciando todas as injustiças feitas a seus filhos e filhas, e à própria Terra…
– irmos ao encontro de todas as pessoas que vivem oprimidas e excluídas, e, em nome de Deus, prestarmos nossa solidariedade…
– marcar presença em todas as frentes de luta da Classe Trabalhadora e dos Movimentos Sociais Populares, para que os direitos conquistados pelo Povo sejam respeitados e se avance para novas conquistas: a Reforma Política, tão urgente… a Reforma Agrária, tão adiada… uma Pátria justa e solidária, onde todas as desigualdades e exclusões seja superadas.

Jesus fez a sua parte e se foi. Agora, é nossa vez: na força do Espírito que ele nos envia, façamos a nossa!

II – Pentecostes – C: O Espírito, Mandado Pelo Pai, Nos Lembra Tudo Quanto Jesus Disse

(João 14,16-16.23b-26)
Discernimento, eis a questão! É do que mais se precisa, num tempo de tanta complexidade e inertezas. Há quase 51 anos (08.12.1965), se encerrava um Concílio Ecumênico, cuja importância maior tinha sido, justamente, diante dos “sinais dos tempos”, discernir o que o Espírito estava dizendo às Igrejas… Durante algum tempo, as Igrejas se puseram à escuta e procuraram dar as respostas que o momento do mundo exigia. Na América Latina, particularmente Medellín/1968 e Puebla/1969, foram momentos expressivos de leitura da nossa realidade de “injustiça institucionalizada” e de respostas consequentes e ousadas aos desafios do Continente.

Mas não durou tanto tempo este fervor de mudança, de conversão, de busca sincera de resposta aos desafios da História, de volta às fontes e de resposta generosa aos apelos de Deus. Começando pelas mais altas cúpulas, de cima a baixo, como diz o povo, “se voltou à vaca fria”, à mesmice de um clericalismo imbecilizante, e de um devocionismo “festivo”, alienado, quando não, comercialmente manipulado.

Contudo, continua de pé a promessa: O Consolador, o Confortador, o Assistente que o Pai nos mandou permanecerá sempre conosco, e vai nos lembrando, de conjuntura em conjuntura, tudo quanto Jesus deixou dito para nós. O advento de FRANCISCO tem sido uma dessas irrupções espetaculares do Espírito, na História. De repente, qual suave e forte ventania, o Espírito passa desinstalando e sacodindo o mofo, e “acorda pra JESUS!” muita gente acomodada ou alienada. Mais uma vez, quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir pode regozijar-se com o cumprimento da profecia: “O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos lembrará tudo quanto vos tenho dito”. É importante darmo-nos conta, de que estamos vivendo um “tempo de graça”, de chamado à mudança, à renovação. Diante das mudanças que mundo trama e engendra, as Igrejas precisam colocar-se a serviço das mudanças que o Reino de Deus nos exigem com urgência, para que ele, o Reino, “venha” e possa realizar-se “assim na terra como no céu”!

A Campanha da Fraternidade deste ano de 2016 bem que nos tentou acordar para o engajamento no esforço comum dos Movimentos Sociais Populares, de contribuir para as mudanças que precisam ocorrer no cuidado com a CASA COMUM.

Desde o “Grito dos Excluídos” de dois anos atrás que, de várias maneiras e por vários caminhos, os Movimentos Sociais Progressistas e Populares, e a própria CNBB nos convocam, por exemplo, à luta pela REFORMA POLÍTICA, pela convocação de uma ASSEMBLEIA CONSTITUINTE EXCLUSIVA E SOBERANA PARA A REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO, sem o quê, nenhuma transformação social de profundidade, amplitude e envergadura poderá prosperar nesse país de secular cultura do privilégio, da desigualdade e da corrupção.

Os fatos que vem ocorrendo em torno do impedimento da Presidenta da República, agora afastada do exercício do governo por seis meses, à espera do julgamento definitivo, nos coloca todos e todas que temos compromisso com a Classe Trabalhadora e com as Periferias empobrecidas, em estado de alerta máximo! Haveremos de permitir o retrocesso, a volta à política neoliberal que só interessa às elites entreguistas do nosso país e aos abutres de fora que estão o tempo todo de olho nas riquezas do povo que ainda não foram privatizadas?… O Espírito venha nos despertar do marasmo de um cristianismo estéril, que em nada corresponde ao que Jesus nos sugere quando nos convoca a sermos “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento na massa”, de modo que as “pessoas vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”! (Mt 5,16).

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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