ronaldo o homem de mia

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(para Mia Couto)
Tô contigo Mia
e não chio,
quando dizes:

que cada homem é uma raça,
porque quem dispara certeiro,
vai sempre um pouco no arremesso;

que um homem bom nunca tem razão,
porque está sempre aquém
dos seus suspiros e assombros;

que a história de um homem
é sempre mal contada,
porque cada pessoa ainda é nascente;

que a gente se perde sempre
na extensão das mulheres,
porque a nossa viagem nelas é interminável;

que nesse mundo não há bons,
há apenas maldosos,
porque todos nascemos preguiçosos;

que a gente tem vontade
às vezes de ser boi,
porque estamos cansados de esperar tragédias;

que preferimos o fingimento,
esse distanciamento de nós,
porque acreditamos que
só o escuro junta a trama do espalhado;

que depositamos na noite
o nosso impossível,
porque só nessa ilusão
descansamos nossos espectros;

que gritamos juntos
e alucinados,
porque não suportamos o silêncio;

que no gingado do corpo da mulher,
vai ali fechado o seu coração;

que a vontade se alimenta do impossível,
porque o possível há muito nos matou;

que o medo é uma pequena fogueira no peito,
porque sempre carente de mais lenha;

que o passado é um morto-vivo na antesala,
porque a gente nunca o enterra o suficiente;

que coragem pode não passar de ousadia,
porque não se vestiu de esperteza;

que o homem vai sempre estar aquém do céu,
porque onde ele chega mais alto é por empréstimo
mas, geralmente, se esquece disso;

que o tamanho da verdade
nunca cabe dentro da gente,
porque estamos sempre catando miúdos de realidade;

e que somos todos fantasmas
esperando os vivos que nunca aparecem.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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