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(para Mia Couto)
Tô contigo Mia
e não chio,
quando dizes:
que cada homem é uma raça,
porque quem dispara certeiro,
vai sempre um pouco no arremesso;
que um homem bom nunca tem razão,
porque está sempre aquém
dos seus suspiros e assombros;
que a história de um homem
é sempre mal contada,
porque cada pessoa ainda é nascente;
que a gente se perde sempre
na extensão das mulheres,
porque a nossa viagem nelas é interminável;
que nesse mundo não há bons,
há apenas maldosos,
porque todos nascemos preguiçosos;
que a gente tem vontade
às vezes de ser boi,
porque estamos cansados de esperar tragédias;
que preferimos o fingimento,
esse distanciamento de nós,
porque acreditamos que
só o escuro junta a trama do espalhado;
que depositamos na noite
o nosso impossível,
porque só nessa ilusão
descansamos nossos espectros;
que gritamos juntos
e alucinados,
porque não suportamos o silêncio;
que no gingado do corpo da mulher,
vai ali fechado o seu coração;
que a vontade se alimenta do impossível,
porque o possível há muito nos matou;
que o medo é uma pequena fogueira no peito,
porque sempre carente de mais lenha;
que o passado é um morto-vivo na antesala,
porque a gente nunca o enterra o suficiente;
que coragem pode não passar de ousadia,
porque não se vestiu de esperteza;
que o homem vai sempre estar aquém do céu,
porque onde ele chega mais alto é por empréstimo
mas, geralmente, se esquece disso;
que o tamanho da verdade
nunca cabe dentro da gente,
porque estamos sempre catando miúdos de realidade;
e que somos todos fantasmas
esperando os vivos que nunca aparecem.
Obs: Imagem enviada pelo autor.