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Nota inicial: A linguagem pode ser recriada. – Ainda bem! O capitalismo pode ser superado? – Só se a gente quiser e lutar. Termina aqui a nota e continua a tentativa! A morte é o fim da vida. A vida é o período entre o nascimento e a morte. A morte pode ser provocada por várias causas e mecanismos, entre eles, o capitalismo. Capitalismo é um sistema baseado no lucro. Lucro é a diferença entre o custo de produção e o valor estabelecido na venda de um produto. No lucro está inserida a mais-valia. Mais-valia é exploração do trabalhador pelo capitalista.

No capitalismo, o trabalhador gera riqueza para o patrão. Riqueza é o acúmulo de bens. Bens podem ser naturais ou produzidos pela ação humana. Entre os bens naturais estão: a água, o ar, o sol e a terra. A terra pode ser vista como Pacha Mama (indígenas) ou como mercadoria, pelo sistema capitalista. Mercadoria é tudo o que pode ser comercializado. Entretanto, nem tudo o que é comercializado deveria ser transformado em mercadoria. Por exemplo, os bens naturais.

O patrão que quer ter mais lucro, entre outras coisas procura aumentar a posse dos bens naturais e dos meios de produção. Meio de produção é tudo aquilo que é utilizado para gerar lucro (máquinas, ferramentas, terras…). No capitalismo, o dono do capital entra com os meios de produção e o trabalhador com a força de trabalho para produzir bens de consumo. Bens de consumo podem satisfazer necessidades básicas ou necessidades criadas pelo desejo. Desejo é uma vontade estimulada constantemente pelo capitalismo. Quem se move pelo desejo nunca consegue satisfazer as “necessidades”. E não consegue porque os desejos humanos estimulados pelo mercado se tornam ilimitados.

Na verdade – ensinam os indígenas – bastam poucos bens para vivermos bem. “Índio” foi uma classificação equivocada feita por Cristóvão Colombo, julgando ter chegado à Índia, quando, na verdade, estava aportando na América Central.  No Brasil, existem mais de 700 mil pessoas, pertencentes a cerca de 235 povos indígenas, falando mais de 180 línguas. Embora haja diversidade de idiomas, os povos indígenas têm uma linguagem comum que se traduz no cuidado e preservação. Para estes povos – que estão na modernidade que deveríamos almejar – preservar é não destruir, viver em harmonia com o outro e com o meio ambiente, não mercantilizar as águas, as florestas, os animais, a atmosfera, a terra, a vida.

O homem e a mulher são elementos integrantes do meio ambiente. Nós, ditos humanos, precisamos salvar o meio por inteiro. Para salvar o meio ambiente por inteiro é necessário mudar nossa visão, nosso pensamento e nossas atitudes. Para ter uma consciência humanitária e planetária é indispensável uma educação libertadora. A educação libertadora (Paulo Freire) é aquela que leva os humanos a serem sujeitos e não meros objetos da história. História é vida vivida e refletida. Reflexão é um exercício de indagação sobre o que está aí. Muitas coisas que estão aí precisam ser transformadas. A transformação se dá pela práxis.Práxis implica reflexão-ação-reflexão. Nem sempre é muito fácil.

A práxis pode se dar de forma individual ou coletiva. A práxis coletiva tem grande poder de transformação social. Ela é desenvolvida pelos diversos sujeitos da Sociedade Civil. A Sociedade Civil é composta por organizações sociais que não são dirigidas pelo Estado. Fazem parte do Estado as diversas instituições comandadas pelo governo. Nas Américas temos distintos tipos de governo. Uns com tendência mais capitalista, portanto favorecem o acúmulo de capital nas mãos de poucos; outros com tendência mais socialista, ou seja, com projetos e políticas mais voltadas para as questões sociais.

Socialismo é um sistema político que prioriza o social ao invés do capital. Alguns têm medo do socialismo, associando-o ao comunismo. Julgam o comunismo inconveniente e perigoso sob o argumento de que ele prega o ateísmo e tolhe as liberdades individuais. Mas, há diferentes possibilidades do socialismo ser. Não necessariamente é ateu. O maior socialista que já existiu na face da terra chama-se Jesus Cristo. Ateu é quem não acredita em Deus. No capitalismo neoliberal, “deus” é o mercado total que exige sacrifícios dos “fiéis”. Nele, a lei maior é a liberdade do mais forte. Liberdade é direito essencial e aspiração de todos, não apenas de quem tem dinheiro. Como diz Cecília Meireles: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta; que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Trabalho escravo é violação da liberdade humana. Infelizmente, trabalho escravo não é coisa do passado. Ele se mantém de diversas maneiras no mundo contemporâneo. O capitalismo – que busca o lucro, que inclui a mais-valia, que explora a força de trabalho – vive à custa da morte ou “semi-morte” do trabalhador. Do trabalhador que é submetido às novas formas de trabalho escravo, trabalho precário, mal remunerado, superexplorado… Trabalho realizado na cana-de-açúcar, carvoarias, agropecuária, diversas monoculturas, bem como nos ambientes urbanos.  No capitalismo, a vida e a morte não são iguais para todos. Igualdade é outro direito humano fundamental. Direito humano fundamental é direito natural e inalienável. Inalienável é o que não se pode comprar e vender, ceder ou negociar. Exemplo: a vida.

O capitalismo – que não prima pela vida da maioria das gentes – ao contrário do que imaginam alguns, não está em crise. Quem está em crise são dois terços da população do planeta, especialmente da África, da Ásia e da América Latina. População que vive no limite da pobreza ou abaixo dela. Entre esses dois terços acham-se inúmeros “Severinos” e “Severinas” que não têm sequer um palmo de terra medida onde possam viver dignamente a sua vida. Essa é a lógica do capitalismo: concentrar os bens de produção, entre eles a terra com sua rica biodiversidade.

Para combater o capitalismo que provoca a morte é importante um projeto popular nacional. Projeto baseado na justiça social, na solidariedade, na democracia política e econômica. Projeto onde a vida seja promovida e defendida em todas as suas dimensões. Uma pátria livre, um povo soberano, com seus direitos garantidos, só se faz com muita luta. Luta é algo que tem início, mas não pode ter fim. O fim principal da Sociedade Civil organizada e consciente de seus direitos é a superação do capitalismo “selvagem” modernizado. Ser moderno neste mundo globalizado, individualista, excludente e mercantilista é lutar por uma Terra Sem Males onde haja vida digna para todos. O resto é arcaico e detestável! (20.11.2007)

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Obs: Participou da elaboração do texto acima , juntamente com o autor, o professor e doutorando Em História: Antônio Alves de Almeida.

 O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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