Lug Costa 15 de maio de 2016

lugcosta a espera de um milagre

Podemos viver uma etapa da vida a espera de um milagre ou um grande milagre, que poderá transformará radicalmente nossa existência. Vamos percebendo aos poucos com o passar do tempo, com um certo desespero, que o milagre talvez não venha a acontecer, e que não temos o controle do tempo que passa rápido demais. O mal que nos cerceia parece ser mais forte do que todos os nossos desejos de libertação e superação. E nos vemos atraídos e seduzidos por um poder satânico, que não conseguimos decifrar seu poder dominador sobre nossa vida. E cada dia que passa vai paulatinamente minando todas as esperanças e esforços de ver realizado o tão desejado milagre.

UMA LONGA ESPERA

A espera é longa, adentra dias e dias, sem nenhuma esperança da chegada do escolhido. O tempo avança e parece destruir toda semente plantada para ser replantada e perpetuar a espécie. De vez em quando retorna o pensamento, e uma voz sussurra ao coração: “Espera mais um pouco. Ele está chegando”. Mas é apenas uma voz que percebo a distância quilométrica de sua ressonância. Não passa apenas de uma voz. Não pode trazer nenhuma certeza, nenhum alivio que possa fortalecer a alma e revigorar as forças.

Talvez a maior tragédia que se aproxima é a sensação de impotência de desejar repassar o conhecimento e a proximidade da morte chegando e não se poder reverter nem uma vírgula do destino traçado. A espera de um milagre é na verdade a espera da compreensão do próprio mistério da vida, que não repousa no esperado, mas em mim mesmo. Talvez não tenha nada pra deixar para os outros e nem pra mim mesmo.

A espera de um milagre se parece com um porto construído numa ilha desconhecida que aguarda ansiosamente pelo desembarque de algum navio. É como um sonho que se insiste em sonhar acordado, mesmo percebendo a impossibilidade de tudo que estamos imaginando e desejando de olhos abertos. A espera de um milagre é o ato de reconhecimento de nossa suprema impotência diante de nós mesmos.

A VIDA NÃO ESPERA

Existem pessoas que passam a vida inteira esperando por este momento. E concluem a sua existência sem verem realizado o milagre. E podemos nos perguntar: de quem depende a realização do milagre? Depende do mérito de uma vida exemplar? Do esforço de perfeição? De uma recompensa divina? É verdade que existem forças misteriosas que atuam na realização dele. Não sabemos de onde vem e nem para onde vai. Desconhecemos o momento em que vão agir sobre nós e os outros.

A GRATUIDADE DA ESPERA

Parece que o milagre começa a acontecer no momento em que começo a perceber a gratuidade de cada momento que me é concedido para viver com todas as suas possibilidades de crescimento, e correspondo a esse movimento interior com uma decidia e irrevogável abertura de espírito. Nada se impõe e tudo pode ser transformado de dentro para fora e de fora para dentro.

O milagre quer atender as expectativas de quem deseja vê-lo realizado e em quem vai acontecer. No profundo do desejo está a realidade da mudança: mudança de vida, mudança de modo de pensar e agir, mudança no modo de ser e de se colocar diante da própria vida. O milagre é dinâmico e processual. Às vezes somos tentados a penar que ele acontece todo e de uma vez. Existem etapas de avanços e recuos, de certezas e incertezas, de vida e de morte.

O vigilante ficou a noite toda esperando o visitante indesejado. Ele não veio. Contudo, os olhos embriagados pelo sono da longa e cansativa espera, se conformam com a ausência que não se torna presença. A atenção é redobrada em qualquer movimento que possa sinalizar uma presença. É a expectativa do milagre. Nesta longa espera vigilante o milagre já está acontecendo.

O MILAGRE DA FÉ

E a fé onde entra neste milagre? É a última esperança de que alguma coisa possa mudar. Quando já estão esgotadas todas as outras possibilidades o ultimo olhar se prospecta na direção do infinito. Essa atitude chamamos de fé. Ela ajuda a colocar os pés no chão. Não importa se neste chão corre sangue untado de dores e sofrimentos. É o chão da vida, da realidade dura e crua de cada dia. É o chão da fé que nutre de coragem, de perseverança os passos cambaleantes, incertos. “Não é fácil dispensar o chão em que se pisa”, para poder se ficar forte e vencer as batalhas, e vencer uma batalha de cada vez.

Os caminhos de Deus são difíceis de serem aceitos quando estamos seduzidos, enfeitiçados pelo mal, pelos prazeres que o mundo oferece. A escolha é nossa: ao escolher o mal parece que escolhemos a melhor parte, a verdadeira felicidade, mas na verdade ficamos iludidos pelas aparências. O mal planta e colhe o mal. Afastar-se do plano de Deus implica numa escolha que em alguns casos é difícil de retornar depois. No ato da nossa liberdade repousa a possibilidade de ser livres ou danificar pra sempre a nossa vida.

Os sonhos terminam onde começamos a dizer para nós mesmos que preferimos o nosso egoísmo, que não estamos dispostos a mudar radicalmente nosso modo de viver a própria vida. Os sonhos são uma possibilidade de abertura em direção do futuro, que se constrói somente no momento presente.

Existe um olhar sobre nós mesmos que reflete o olhar que temos sobre os outros. A perspectiva de onde podemos partir – o que eu gostaria ou poderia ser – indica para onde podemos nos projetar e nos abrirmos ao verdadeiro milagre da fé: encontrar-se em Deus e se auto-encontrar Nele.

Tu podes mudar, não o mundo, mas a ti mesmo. É necessário descobrir o caminho para chegar ao mais profundo de si mesmo. É preciso deixar o único milagre acontecer.

A maior força que trazes não está nos teus músculos, mas no profundo de tua alma: a força do amor, a força do bem, a força do verdadeiro milagre.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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