A barriga da mãe crescia e ela sumia cada vez mais da nossa vida. Seu quarto vivia na penumbra. Vez ou outra vinha um médico. Quase sempre, enfermeiras. A casa cheirava a remédio e tristeza. Um dia ela se foi. Veio a tia e abriu todas as janelas. Pôs flores nos vasos, coloriu as camas e a casa ganhou cheiro de alfazema. Nada disso mudou nossa vida. Continuava doendo nos quatro aquela despedida que não entendíamos. Fomos ficando solitários. E rebeldes. A tia foi ficando amarga. E impaciente. Um dia ela ficou histérica. Gritou, xingou, exagerou. Prendeu as mãos da caçula nos pés da mesa. Nós nos encolhemos em volta dela. Ficamos ali chorando baixinho. Ficamos ali até a chegada do pai. Nunca mais vimos a tia. Virei a mãe da família.
Obs: Imagem enviada pela autora (Arte: Zinaida Evgenievna Serebriakova)