19/09/2012
SINOPSE
Na ocasião em que se fala sobre o educador Paulo Freire, discute-se também a respeito das contribuições freireanas no currículo crítico.
PONTO DE PARTIDA
Em novembro de 1988 Luiza Erundina foi eleita prefeita da cidade de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores-PT. No momento da definição do secretariado a então chefe da administração municipal convidou o educador Paulo Freire para tomar para si a Secretaria de Educação. Paulo Freire assumiu o cargo de Secretário exclusivamente no período de janeiro de 1989 a maio de 1991, pois considerava como tarefas prioritárias (cursos, debates, entrevistas, palestras) que ministrava em diferentes espaços educativos nacionais e internacionais.
Os atores sociais da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, direcionados pelo Secretário de Educação Paulo Freire, exercitaram no ano de 1989 a reflexão do currículo escolar na dimensão da educação como prática de liberdade.
Essa pedagogia da transformação traduziu-se no movimento de reorientação curricular e de formação dos educadores num processo dialógico (escola, comunidade, especialistas de diversos campos do conhecimento), o qual contribuiu na problematização e definição dos princípios do currículo progressista e emancipatório.
O referencial curricular representativo da visão dos professores da Rede Municipal de Ensino de São Paulo constituiu-se num subsídio para elaboração do plano de 1990. O documento alusivo a Educação Municipal, em que se permite retratar o pensamento dos alunos, auxiliou no planejamento escolar de 1991, entre outros materiais sistematizados.
Certamente, ao se considerar os saberes a serem construídos nos ambientes de aprendizagens caracterizados por meio da invenção, pela descoberta, no decurso do erro como pista para novas elaborações, possibilitou a formulação de projetos político-educativos (revisão curricular, implantação de ações no âmbito da alfabetização de jovens e adultos, recuperação salarial dos professores) na dimensão da ética do gênero humano.
LUZ, CÂMERA, AÇÃO
A Deputada Federal Luiza Erundina, Partido Socialista Brasileiro-PSB de São Paulo apresentou o Projeto de Lei n.º 5.418, 14 de junho de 2005, atinente a proposição que se declare Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
No Senado Federal a Comissão de Educação, Cultura e Esporte – CE acolheu por unanimidade no dia 06 de março de 2012 o Projeto de Lei da Câmara nº 50/11 (nº 5418, na casa de origem, da Deputada Luiza Erundina).
A presidenta do Brasil Dilma Rousseff e o Ministro da Educação Aloizio Mercadante aprovaram a Lei nº12. 612, de 13 de abril de 2012, publicada dia 16 de abril no Diário Oficial da União, que estabelece no artigo 1º “O Educador Paulo Freire é declarado Patrono da Educação Brasileira”.
O maior mérito da referida lei é instigar o professor, de modo especial brasileiro, a se empoderar cada vez mais das questões centrais da educação libertadora. O legado do Paulo Freire é instituinte de práticas diferenciadas nos currículos das Instituições de Ensino Superior – IES. A formulação de projetos na perspectiva do trabalho pedagógico como práxis humana se faz presente em vários contextos, as publicações em formato impresso e digital estão sinalizando esses cenários a cada instante.
CORTA
Por outro lado, os registros de experiências exitosas na apropriação e recriação de conhecimentos que se divulgam no meio acadêmico ainda não correspondem a totalidade dos planos de ação na América Latina, e por que não dizer no Brasil.
Buscar a ruptura do paradigma técnico-linear nos currículos dos cursos de graduação se revela como um grande desafio.
À luz da assertiva de Bertolt Brecht importa pensar: “A árvore que não dá frutos é xingada de estéril. Quem examina o solo? O galho que quebra é xingado de podre, mas não havia neve sobre ele?”.
Essa conjuntura indica que os sujeitos das IES são os mesmos da sociedade, submetidos aos condicionamentos históricos da realidade.
CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
A construção e vivência de um novo paradigma é o que se aponta para o ensino superior, exigindo-se dos diversos atores sociais o planejamento de ações educativas correspondentes a formação do cidadão planetário. Na constituição de novas relações internas em interação com a sociedade como um todo se indica a escolha das seguintes prioridades: democratização da acessibilidade e permanência; nova qualidade do ensino, com reorientação curricular; democratização da gestão; condições dignificantes do trabalho docente; extensão como comunicação, entre outras.
É chegada hora de se incorporar na universidade a reflexão crítica e pedagógica em toda sua plenitude; se você entende que tem muito por fazer comece a exercitá-la, afinal autonomia universitária se conquista.
CRÉDITO
Os aportes teóricos do inovador Paulo Freire iluminam com toda energia o pensamento das pessoas que se posicionam a favor da educação como um patrimônio da humanidade.
Obs: A autora é Professora da Universidade de Pernambuco – UPE. Integrante do Conselho de Representantes da Seção Sindical dos Docentes da Universidade de Pernambuco – ADUPE. Sócia do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas.