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Lucas 4,1-13

Quando chegou à plena consciência da sua missão, Jesus se fez batizar pelas mãos de João, o Batista. Reconhecido pelo Pai como seu Filho querido, crismado pelo Espírito, sua primeira atitude é fazer um longo retiro no deserto, a fim de experimentar em toda a sua amplitude e profundidade os significados e as exigências do seu Batismo.

Para tanto, nada melhor que um encontro, cara a cara, com aquele que, do início ao final da sua jornada, será seu grande inimigo e o maior desafio da sua existência terrena:

– Entender e assumir as oportunidades da vida como mero ensejo de resolver “meus problemas” ou “cuidar dos meus interesses”, sem me importar com nada e com ninguém mais, eis a primeira sugestão, a primeira cilada do demônio, a primeira tentação…
– Encarar o poder político como possibilidade de ser “dono do mundo”, ter tudo nas mãos, e realizar seu projeto de vida, ambicioso, individualista e egoísta, eis a segunda…
– Colocar Deus a serviço das próprias vaidades, fazer da religião ‘”status”, questão de prestígio, posição, jogo de influência e trama para a dominação das consciências, eis a terceira, a mais sofisticada, insidiosa e perniciosa…

Começar a Quaresma colocando-se diante desta cena e, como batizado, inserir-se nesse contexto, sabendo que o seu desfecho é a Sexta-feira da Paixão…
Saber que não existirá Ressurreição para quem não souber enfrentar, à luz da Palavra de Deus e na força do Espírito, estas tentações, que, de muitas maneiras ocorrem no dia-a-dia de cada um/uma…
Dispor-se a cair em campo e arregaçar as mangas, pela prática da oração sincera, do jejum verdadeiro e da solidariedade lúcida e generosa… Eis o que se espera da gente!

E a Campanha da Fraternidade Ecumênica vai nos ajudar sermos bem concretos!

Conceitos e textos complementares ao texto básico

CAMPANHA “ECUMÊNICA” = O adjetivo “ecumênica” vem da raiz grega OIKOS, quer dizer “casa”, “família/raça”, “povo”. Daí, o substantivo OIKOUMENE, aportuguesado, Ecumene, que quer dizer “terra/mundo habitado”, a grande casa da família humana, a casa da Comunidade Humana, a CASA COMUM! Normalmente, esta palavra se refere às Igrejas Cristãs que, há mais de um século, tentam superar o escândalo da divisão e buscam o caminho da união: somos da mesma família; moramos na mesma casa; precisamos nos unir, em atenção à palavra de Jesus ao orar ao Pai: “a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21b).

CASA COMUM = Como vimos acima, entender a TERRA como nossa CASA COMUM nos leva muito além da união das Igrejas… Melhor, nos leva a nos unirmos como Igrejas Cristãs para, EM NOME DE CRISTO SERVIDOR, servimos juntas ao Bem Comum da Humanidade, a nos engajarmos na luta pela preservação do Planeta, nossa CASA COMUM, ameaçado de extinção, por um sistema devorador da Natureza e de nossas próprias vidas. IGREJAS UNIDAS A SERVIÇO DA VIDA, não será esse o caminho mais curto e eficaz da união das Igrejas?…

SANEAMENTO BÁSICO = Aqui no Recife, conhecemos uma experiência desenvolvida pela Prefeitura, na gestão de João Paulo, aos cuidados da empresa COLMEIA, no bairro de Jardim Uchoa: um projeto de SANEAMENTO BÁSICO INTEGRADO. É disso que trata a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano. E tem a ver com cuidados individuais e comunitários, bem como políticas públicas, que garantam a toda a população:

– abastecimento de água para uso humano, tratada, potável… e para as atividades agropecuárias…

– esgotamento sanitário, isto é, das águas servidas das residências e das indústrias, tratadas, de modo a não poluírem o ambiente, os rios e o mar, e mesmo a poderem ser reutilizadas…

– esgotamento, drenagem e/ou armazenamento das águas da chuva (“águas pluviais”)…

– coleta e tratamento do lixo das casas (“domiciliar”), das ruas, das indústrias e dos hospitais, de modo a não poluir o ambiente, o ar, os mananciais e as águas subterrâneas (“lençol freático”).

Dá para perceber, de cara, o quanto tem a ver com a saúde e o bem-estar da população. A epidemia que acomete nossa cidade, nosso estado e todo o país, causada pela presença do mosquito Aedes Aegypti, não se deve, antes de tudo, à falta de Saneamento Básico?… É o caso de encararmos esse imenso problema com as palavras do Apóstolo Paulo: O AMOR DE CRISTO NOS IMPELE! (2 Carta aos Coríntios 5,14).

Justiça social

<<Sim! Vou criar noo céu e nova terra! As coisas antigas nunca mais serão lembradas, jamais voltarão ao pensamento. Mas haverá alegria e festa permanentes, coisas que vou criar, popis farei de Jerusalém uma festa, do meu povo uma alegria. Eu farei festa por Jerusalém, terei alegria no meu povo. Ali não mais se ouvirá o soluçar do choro nem o suspirar dos gemidos. Não haverá ali crianças que só vivam alguns dias, nem adultos que não completem os seus dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos. Não alcançar os cem anos será maldição. Quem fizer casa, nelas vai morar, quem plantar vinhedos, dos seus frutos vai comer. Ninguém construirá para outro morar, ninguém plantará para outro comer. A vida do meu povo será longa como a das árvores, meus escolhidos vão gozar do fruto do seu trabalho. Ninguém trabalhará sem proveito, ninguém vai gerar filhos para morrerem antes do tempo, porque esta é a geração dos abençoados do Senhor, ela e seus descendentes. E, então, antes que por mim chamem, eu estou respondendo, ao começarem a falar, já estou atendendo. Lobo e cordeiro pastarão juntos, o leão comerá capim junto com o boi, quanto à serpente, a terra será seu alimento. Ninguém fará o mal, ninguém pensará em prejudicar na minha momtanha santa – diz o Senhor>> (Isaías 65,17-25).

<<Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Perseveravam bem unidos, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simoplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pesoas que seriam salvas. (…) A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possía, mas tudo entrre eles era posto em comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça de Deus. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou cass as vendiam, traziam o dinheiro e do depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um>> (Atos do Apóstolos 2,44-47.4,32-35).

<<Vi então um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi, também, a cidade santa, a nova Jerusalém, descida do céu, de junto de Deus, vestida como noiva enfeitada para o seu esposo. Então, ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus- com-os-seres-humanos. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá ais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor. Porque as coisas anteriores passaram”>> (Apocalipse 21,1-7)

<<De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades, é uma frase de efeito popularizada por Karl Marx no ano de 1875, em Crítica ao Programa de Gotha. Enfatiza o princípio de que, numa sociedade comunista, cada pessoa deveria contribuir o melhor de sua habilidade e consumir dela apenas a proporção do necessário a si. Na visão marxista, tal acordo seria possível graças a abundância de bens e serviços que uma comunidade socialista desenvolvida pode ser capaz de produzir, havendo o suficiente para satisfazer as necessidades de cada um. >>(Google-Wikipédia)

<<Em 1894 o beato José Lourenço arrendou o Sítio Baixa Dantas no município de Crato (CE) sob a orientação do Padre Cícero a quem ele seguia como referência de santidade, referindo-se a ele como “meu Padim”. Ali ele liderou a sua primeira experiência em comunidade com o trabalho coletivo. Foram com o beato para o Sítio Baixa Dantas órfãos, desempregados pessoas em conflito com a lei, camponeses cansados com o trabalho explorador. A maioria das pessoas que iam para o Sítio Baixa Dantas era enviada pelo Padre Cícero para que pudessem se oportunizar a uma nova vida através do trabalho reeducativo e religioso do Beato José Lourenço. Embora o terreno ali encontrado fosse pedregoso, a comunidade conseguiu através de mutirão construir casas de taipa, sistema de irrigação, produzir cereais, algodão, frutas, hortaliças.

Os sertanejos vinham de todo o Nordeste, sendo que a maior parte era do Rio Grande do Norte. Toda a produção da comunidade era repartida entre todos>> (Google – Fátima Teles: O massacre do Caldeirão do Beato Lourenço).

Justiça Ambiental

História bíblica da Criação do Ser Humano: primeira versão (urbana, sacerdotal): <<No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz”! (…) “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. (…) “Juntem-se num único lugar as águas que estão debaixo do céu, para que apareça o solo firme”. (…) “A terra faça brotar vegetação: plantas, que deem semente, e árvores frutíferas, que deem fruto sobre a terra, tendo em si a semente da sua espécie” (…) “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de sinais para marcar as festas, os dias e os anos”. (..) “Fervilhem as águas de seres vivos e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. (…) “Produza a terra seres vivos segundo suas espécies, animais domésticos, animais pequenos e animais selvagens, segundo suas espécies”(…) E Deus viu que era bom. (…) “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os que se movem pelo chão”. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e Mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão”. Disse Deus: “Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento” (…) E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom>> (Gênesis 1,1-31).

Precisa entender as palavras que estão grifadas no contexto de toda a Revelação bíblica: o ser humano colocado como Rei da Criação… Vejamos o perfil do Rei, segundo o coração de Deus, à imagem e semelhança de Deus, por exemplo, no Primeiro Testamento,  nas palavras do Salmo 101; mas, sobretudo, na plenitude da Revelação, na pessoa de Cristo: rei, não é aquele que domina como um soberano absoluto, para satisfazer os caprichos da sua vontade e da sua cobiça,  mas é aquele que pratica a justiça, promove o direito, cuida prioritariamente dos mais precisados,  se coloca como servidor do povo, para garantir a felicidade, a vida plena a todo mundo, especialmente aos espoliados e excluídos. “Dominai”, então = “Sede responsáveis”.

História bíblica da Criação do Ser Humano: segunda versão (rural, popular): <<Quando o Senhor Deus fez a terra e o céu, ainda não havia nenhum arbusto no campo sobre a terra e ainda não tinha brotado a vegetação, porque o Senhor Deus não tinha enviado chuva sobre a terra, e não havia ninguém para cultivar o solo. Mas brotava da terra uma fonte que lhe regava toda a superfície. Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente. Depois o Senhor Deus plantou um jardim em Édem, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado. E o Senhor Deus fez brotar do solo toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso (…). De Édem nascia um rio que irrigava o jardim e, de lá, se dividia em quatro braços. (…) O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Édem, para o cultivar e guardar (Gênesis 2, 4b-15).

A visão do mundo feito um jardim e do ser humano como alguém feito do barro da terra – homem-terra – para cuidar desse jardim e cultivá-lo é, com certeza, tudo quanto a gente, hoje, sonha e quer ver acontecer. Com certeza, o “Dominai” da primeira versão de Criação encontra nesta segunda seu verdadeiro sentido: “cultivar e guardar”

Quando todas as famílias morarem numa casa que ofereça segurança, conforto e bem estar suficiente a cada pessoa e ao conjunto da família…

Quando todas as casas forem abastecidas com água tratada, boa para consumo humano, e com água potável, e as águas servidas escoarem para esgotos sanitários, onde serão tratadas e devolvidas à Natureza sem perigo de contaminação…

Quando o lixo de cada casa, das ruas, das indústrias e dos hospitais for recolhido seletivamente, e tudo quanto puder, for reciclado, e tudo mais vá para aterros sanitários, de tal maneira que nada venha a prejudicar o meio ambiente, especialmente o ar e as águas…

Quando as políticas públicas que garantem o Saneamento Básico contemplarem, em primeiro lugar, os mais precisados, de quem se cobrará apenas o que estiver ao alcance da renda familiar…

Quando cada pessoa for educada para assumir com responsabilidade os cuidados cotidianos com o seu ambiente e com a Mãe Terra, e ninguém desperdiçará nenhum bem de consumo, especialmente a Água, e todo mundo evitará o consumismo que devora a Natureza…

Quando cada pessoa aprender a conviver em harmonia com a Natureza e com os seus semelhantes, contribuindo, na medida de seus conhecimentos e capacidades, para um mundo saudável, sossegado e belo, humano e irmanado…

Quando a ninguém for negado o direito do BEM VIVER, então, haverá Justiça Ambiental.

E a Justiça Social garantirá a Justiça Ambiental!

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs,  no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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