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Muito cansada…
Cansada de gente que não fala com linearidade, prefere jogar piada, soltar sarcasmo no ar.
Espicaça, ironiza, debocha, cerceia, diminui, desvaloriza e atropela os que ousam andar no mesmo tempo / espaço que pensa lhe pertencer com exclusividade.
Acha que é o umbigo do mundo, e que o tempo só corre pra lhe estender o tapete vermelho.
Não sorri sincero, estica a boca com certa má vontade, quase careta em tentativa de sorriso.
Ama com palavras,mas sem atos, sem gestos, sem abraços, sem presença, – de mentirinha – porque lhe disseram, num pedaço do passado, que era preciso amar pra ‘parecer’ humano.
Então estaca na infância, independente de cronologia, e segue fingindo que aprendeu a lição.
Perde minutos preciosos na espreita de uma falha do companheiro de estrada, caçando defeitos e imperfeições como se pulgas fossem.
Deixou a alma em algum canto da jornada, caminha vazio, indolor, sem consciência, portanto, da dor do outro.
Quer padronizar e só aceita os que rezam na mesma cartilha.
Desarma nosso sorriso com carrancas de dia infeliz.
Não enxerga a beleza das flores, a meiguice dentro do olhar de um cão, a ternura da conversa da criança, a pureza da simplicidade.
O espetáculo diário do sol, ensanguentando a tarde na despedida do dia, preparando o parto da noite, a caravana de estrelas acompanhando a lua.
Afirma ‘não gosto’ para tudo o que não está na sua lista de prioridades.
Alfineta, ironicamente, pensares diversos, como se fosse o detentor da única verdade existente.
Não entende que por mais sinuoso que seja o caminho vizinho, também é caminho, também vai desembocar em algum mar de serenidade, um dia. Cansada, principalmente, de quem não sabe ler o poema da vida, e vê como de pouca valia o esforço de quem, ao seu lado, tenta embelezar o mundo, calado, fazendo, com as mãos, a parte que lhe cabe, porque vida, seja de que tipo for, é poesia da melhor qualidade.
Tão cansada que poderia fechar os olhos agora e abrir do outro lado, sem susto, sem sobressalto,
sem remorso e sem despedida.