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Foi em Munique. Vinha do restaurante para o hotel, depois do almoço, quando, vi um cão correndo como um carrinho de duas rodas amarradas na parte traseira. O animal se aproveitava do gramado da praça, correndo atrás de algo que lhe atiravam. A tarde, passeando numa das inúmeras ruas comerciais do centro histórico, vi o mesmo cachorro passar por mim, ao lado da dona, e observei que as duas patas traseiras estavam voltadas para trás, sem movimento algum. Ou seja, para se locomover, precisava da ajuda do carrinho, que lhe dava perfeitas condições para tanto. Pude entender a situação.

No final da tarde, na porta do hotel, vi uma senhora, no meio da rua, numa cadeira de rodas, se aproximar de um veículo. Foi até a mala do carro, a abriu, colocando o que portava lá dentro. Depois, deu a volta pela frente do veiculo, fechando a cadeira, para colocá-la no banco traseiro. A seguir,   no carro ingressa pela porta do passageiro. Após, com certa  e natural lentidão, senta-se no banco, passando para o do motorista, onde se ajeitou, colocando-o para funcionar, se afastando calmamente. Não sei qual a peripécia que a mulher pratica, para, em chegando em casa, proceder a mesma maratona, ou seja, sair do carro para o carrinho de rodas, nem se alguém lhe ajuda neste sentido.

Sei que são dois autênticos exemplos, num só dia, que me deixaram estupefato, o do cão e o da mulher, os dois deficientes, podendo ambos se moverem pelas calçadas, praças e ruas, graças a tecnologia que inventa um carrinho de rodas para o cão que substitui na deambulação as patas traseiras, um carrinho de rodas para a mulher deficiente e, ainda,o  veículo adaptado a sua condição física, permitindo-lhe conduzi-lo veículo sem o uso de suas pernas.

O cachorro vai às ruas, corre no gramado das praças e dos parques, como qualquer outro animal da mesma espécie, independentemente do estado de paralisação das patas traseiras. A mulher faz compras, desmonta seu carrinho de rodas, dirige veículo, sem bronca alguma. Em tudo a demonstração da solução encontrada para resolver alguns seculares problemas. Entre nós, esperar a fabricação de uma vacina contra a corrupção no setor público.

Obs: Publicado no Diario de Pernambuco.
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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