Encontraram-no morto em frente a uma pequena fábrica de artefatos de cimento – mais precisamente, ao lado do portão de ferro onde havia uma estátua de concreto em tamanho natural. Tratava-se de uma réplica aproximada da famosa obra-prima de Auguste Rodin.
A vítima, tão conhecida quanto à escultura da calçada, era um desses bêbados metidos a valentões, cujos porres costumam terminar em bravatas estúpidas e brigas gratuitas.
Este, por exemplo, tinha a louca mania de implicar com o Pensador.
Embriagado, detinha-se perante a estátua e, aos berros, endereçava-lhe os mais escabrosos insultos, chegando às vezes a convertê-los em sonoras bofetadas, as quais obviamente não provocavam sequer o mínimo arranhão na face rígida, sempre meditativa.
Morte feia, a do bêbado. Ninguém sabe como se deu. Sabido é que o lado esquerdo do rosto do bebum ficou todo fraturado. Quem quer que o tenha agredido, deve tê-lo feito com extraordinária força, munido de algo muito duro e pesado.
Além da brutal violência, o mais intrigante é aquela mão direita ensanguentada (não a do bêbado, mas a da estátua).
Obs: O autor é escritor e editor. Também é sócio-proprietário da Editora Penalux.
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