Edna Banner Impactos socioambientais

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Resumo

 O propósito deste trabalho corresponde a uma reflexão inicial quanto aos impactos socioambientais da monocultura canavieira no Município de Moreno – PE: da exclusão social a libertação. Caminhando-se numa perspectiva histórico-crítica, situa-se a importância do debate sobre o pensar e agir dos gestores públicos, proprietários de terra e trabalhadores rurais. Nessa discussão situam-se o respeito e valorização da vida a partir da sustentabilidade.

Palavras-chave: impactos socioambientais, sustentabilidade, educação libertadora.

Notas introdutórias

Na atualidade o grande desafio para Educação corresponde a formação do homem para conviver com a imprevisibilidade dos acontecimentos, apresentando simetria entre os cenários futuros com a descoberta do seu significado na prática social. E nesse contexto surge o interesse de se buscar a compreensão de problemas ambientais, sociais embasado no pensamento complexo.

Diante desse quadro deve-se refletir sobre as consequências da monocultura da cana- de- açúcar no meio ambiente e o reflexo na sociedade. Os interesses dos gestores públicos, latifundiários e trabalhadores rurais são questionados no alcance da exclusão-libertação, como faces de uma mesma realidade do homem.

O trabalho apresenta reflexões sobre a inserção da “Utopia e Sonho” no campo da Educação Ambiental. Discute o mal-estar da monocultura da cana-de-açúcar na contemporaneidade. E por fim, defende o argumento da sustentabilidade a serviço da libertação do oprimido.

1.“Utopia e sonho” no campo da Educação Ambiental: “Abrir portas e janelas, e sair e viver

 Capra (2001), em “O Ponto de Mutação” defende a urgência de uma ruptura paradigmática. Uma outra maneira de percepção, pensamento e valorização da vida.

O filme “Ponto de Mutação” dirigido por Bernt Capra, produzido pela The Atlas Production em parceria com Midwalk Productions, apresenta de forma audiovisual aspectos relevantes das contribuições de Fritjof Capra explicitadas no livro supracitado.

No longa-metragem em foco se representa um novo paradigma, uma nova maneira de ver o mundo. Na legenda está sinalizada entre outras afirmações: “Nenhum santo sustenta-se só”. “Todo homem é parte de um continente”. “O mundo muda mais rápido que as percepções das pessoas”. “Por onde começar? Respeitando a próxima geração”.

Ao referir-se sobre a Revolução Copernicana Sousa assinala:

Desde o pensamento revolucionário de Copérnico com sua teoria heliocêntrica em meados do século XVI, que tombou a teoria que a terra era o centro do universo, o que acarretou uma mudança radical, não só na concepção do cosmo que se tinha até então, mas também na própria maneira do homem perceber a sua própria realidade e de como conduzir suas ações perante a natureza. (2006, p. 179)

More em seu livro “A Utopia” ao abordar o aspecto “Da vida e das mútuas relações entre os cidadãos” anuncia que o diálogo de gerações pauta-se numa percepção de mundo que reconhece a interconexão.

Dos dois lados da mesa sentam-se, alternadamente, dois jovens e dois indivíduos mais idosos.
Com esta medida, generalizada a todas as mesas, misturam-se e aproximam-se todas as idades. (2005, p.68).

Dentre os principais desafios da modernidade, em termos do pensar e agir educativo corresponde a se romper com a fragmentação e a desarticulação. A complexidade se apresenta, sem dúvida, como prioridade intransferível quando se opta pela visão de totalidade, onde tudo está interligado e em renovação consecutiva.

Alicerçado no pensamento freireano e considerando a presente crise de paradigmas Scocuglia se posiciona:

Com efeito, para Freire, a reinvenção da sociedade passa, necessária e definitivamente, pela reinvenção do poder que, por sua  vez, não existirá se não for permeada por uma reinvenção educacional, no mais amplo sentido. E, essas reinvençõe avançariam na mediada em que “favorecem a conscientização e a aquisição de novos conhecimentos”. Consciência e conhecimentos correspondentes a uma nova “capacidade de dirigir”, à busca de autonomia e à conquista de objetivos mais duradouros (democráticos, ético-políticos, solidários etc.) para todos os indivíduos e os grupos sociais. (2003, p. 89).

Os argumentos antecedentes validam o convite para analisar-se a monocultura da cana-de-açúcar na contemporaneidade. A monocultura canavieira atual muitas vezes se submete a ser palco de cenários produzidos por “homens” externos, ficando a mercê dos desejos de outrem. A par disso, resgate-se a ideia de mudar a forma de olhar a realidade, fazendo-se interconexões, ao se estabelecer o diálogo promove-se a aproximação da totalidade e permite-se a tomada de decisões compatíveis a principiar a passagem, sair e viver.

Sabe-se que desigualdades no processo do cultivo da monocultura açucareira ainda fazem parte do contexto socioambiental na época presente, solicitando reflexões sistemáticas.  Com base na perspectiva de totalidade, faz-se uma discussão sobre a cana-de-açúcar e exclusão–libertação como duas faces de uma mesma realidade.

2. Cana-de-açúcar e exclusão-libertação: duas faces da mesma moeda

 Para poder se desenvolver a discussão frente aos pontos aqui referenciados, apresenta-se um breve histórico sobre a monocultura da cana-de-açúcar.

Castro num pensar sobre a monocultura da cana-de-açúcar aponta como uma das questões problemáticas:

Descobrindo cedo de que as terras do Nordeste se prestavam maravilhosamente ao cultivo da cana-de-açúcar, os colonizadores sacrificaram todas as outras possibilidades ao plantio da cana. Aos interesses da sua monocultura intempestiva, destruindo que inteiramente o revestimento vivo, vegetal e animal da região, subvertendo por completo o equilíbrio ecológico da paisagem e entravando todas as tentativas de cultivo de outras plantas alimentares no lugar, degradando ao máximo, deste modo, os recursos alimentares da região. Mas, se em verdade essa conduta colonizadora acarretou, graves prejuízos para a estrutura biológica dos humanos que ai se fixou e se desenvolveu, por outro lado deu estabilidade econômica à nova sociedade em formação e permitiu a sua estruturação num regime agrário bem fixado e enraizado na nova terra. (2002, p. 97)

Desse modo, a monocultura canavieira tão bem adaptada a essa terra, impôs aos homens que dela estavam subordinados ou dependem que se fossem expropriados ou se privem de bens essenciais a vida. Tal prática agrícola traz o esgotamento do solo e por conseqüência o desequilíbrio ecológico, não sendo o suficiente a cana-de-açúcar necessita cada vez mais de grandes áreas para seu plantio, deixando assim a população que habita próximo aos canaviais sem espaço e com poucas alternativas de fixarem moradias, ou seja, cada vez mais cana-de-açúcar e menos cidadãos, acarretando desemprego, fome e exclusão social.

Neste caso, criam-se empregos na indústria do açúcar e do álcool, reduzem no campo esses trabalhadores de baixa escolaridade ou considerados analfabetos funcionais, muitos de áreas distantes, terminam a margem do mercado de trabalho, obrigando o Estado a implementar políticas publicas locais para manterem a sobrevivência vital e social desta classe da sociedade brasileira. É o caso do chapéu de palha do Governo de Pernambuco.

Sendo assim, o momento globalizado da agricultura, a informação e mecanização do campo em um modelo de desenvolvimento econômico que prioriza o lucro. Segundo Dias “a economia tradicional vê a terra como uma área expansível, em todas as direções, sem impedimentos sérios para o crescimento econômico.” (2004, p. 236).

Em correspondência a exclusão-libertação apresenta-se uma reflexão da sustentabilidade e libertação do oprimido como aproximação possível.

3. Sustentabilidade e libertação do oprimido: um encontro indispensável

A partir do século XX tem-se utilizado o termo sustentabilidade para especificar conforto, autonomia e respeito ao meio ambiente, porém muitas das ações empregadas pelo homem e denominadas sustentável, não seguem ao seu conceito de origem. No dicionário da Língua Portuguesa pode-se encontrar: “Sustentável adj. Que se pode sustentar”. (1986, p. 1635). Decorre do exposto, que uma sociedade sustentável deve se preocupar com suas necessidades considerando as causas e conseqüências para as gerações futuras. Com isso, infere-se que algumas das ações adotadas pelo homem que denominam sustentáveis ainda não estão de acordo com seu termo, pois visam o lucro e  o dinheiro rápido.

Ampliando-se a discussão sobre a proposta do desenvolvimento sustentável Menezes & Iório observam: “o atual modelo de desenvolvimento econômico é insustentável” (1994, p. 24). O que se pode inferir que o consumo e as necessidades da sociedade estão acima de uma convivência equilibrada com o meio ambiente.

Questiona-se então se a sustentabilidade dará a sociedade amplos meios de saciar suas necessidades, o grande desafio para a sociedade será inserir as questões ambientais, o desemprego e a fome, temas que hoje estão norteando as classes sociais sem distinção, em um mesmo objetivo: a qualidade de vida.

Contudo quando se aplica com seriedade a sustentabilidade dar-se autonomia a quem a desenvolve, pois o homem passa a respeitar os limites naturais e a capacidade de produção das áreas onde desenvolve suas atividades (econômicas, ambiental, social, entre outras).

Dessa forma, pode-se ter a sustentabilidade como uma ferramenta importante para a autonomia dos povos e comunidades que vivem sem ou com pouco investimento por parte dos governantes e empresários, por acharem que as áreas onde tal população habita seja de pouco interesse financeiro, com isso admite-se que a prática de um modelo sustentável vai gerar a libertação necessária a esta população e valorizar suas áreas de produção, passando algumas vezes para uma área de relevante interesse financeiro, adquirindo valor comercial.

Em conexão com estas reflexões intensifica-se um olhar sobre os impactos socioambientais no Município de Moreno. A pesquisa em andamento que aqui se apresenta tem como objeto de estudo teórico (A sustentabilidade no âmbito dos impactos socioambientais) e empírico (Os impactos socioambientais da monocultura açucareira em Moreno – PE).

Trata-se um estudo de caso no qual se elegem como questões de partida: Em que medida um muncípio da região metropolitana de Pernambuco sente o impacto de todo crescimento da indústria sucroalcooleira em todos os seus segmentos sociais e ambientais?  Como os personagens (gestores públicos, canavieiros, agricultores) se vêem nesse processo de mudança educacional, social? Que transformações acreditam que virão?

Como procedimento básico decide-se pela análise documental, por entrevistas semi-estruturadas com gestores públicos municipais, proprietários de terra e trabalhadores rurais e pela  observação do campo.

Quanto à análise dos dados coletados opta-se pela análise de conteúdo. (BARDIN, 1977). Nesse momento o estudo se situa na revisão bibliográfica e participação nos seminários (iniciação científica) de acompanhamento com o orientador.

A realidade tem se configurado mais dinâmica do que o conhecimento que se tem dela. Nesta direção, necessita-se prosseguir em estudo-pesquisa que permita aos investigadores a reflexão de um projeto de homem, mundo, sociedade voltada para causa do povo, quando se tem o respeito e valorização da vida e não o mercado e o capital.

Referências bibliográficas:

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 223 p.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 2001.447 p.

CASTRO, Josué de. Geografia da fome. 2 ed. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira, 2002. 318 p.

 DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental (Princípios e práticas). São Paulo; Ed. Gaia, 2004. 551 p.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira S.A, 1986. 1838 p.

IÓRIO, Maria Cecília. MENEZES, Laís. Educação ambiental. Uma abordagem pedagógica dos temas da atualidade. 2 ed. Rio de janeiro: CEDI- Centro Ecumênico de Documentação e Informação, 1994. 88 p.

MORE, Thomas. A Utopia. São Paulo: Martin Claret. 2005.127 p.

SCOCUGLIA, Afonso Celso. A História das idéias de Paulo Freire e a atual crise de paradigmas. 4 ed. João Pessoa; Ed: Universitária, 2003, 61 p.

SOUSA, Daniel Vieira de. O Conceito de Impacto Ambiental no quadro do conceito de sustentabilidade. http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html Mai. 2008, pp.179-182.
………
.Obs: A autora é docente pesquisadora e extensionista da Universidade de Pernambuco.
Participaram do trabalho acima, além da autora : Rita de Cássia Santana da Silva, José Leandro de Araújo e Helde Leuthier Pimentel Pereira.

. Imagem enviada pela autora.

Link para o artigo acima original em PDF:
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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