Djanira Silva 15 de fevereiro de 2016

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Plantei sonhos nos caminhos da serra, eles me deram asas. Voei na direção do sol para queimá-las. Ameaçavam minha liberdade, arrastavam-me para os abismos.

Minha alma me enganou quando tentei voar. Sequer consegui desprender-me da terra. As tentativas lançaram-me nas profundezas do medo. Temia até minha própria sombra. Chorei porque ali não era meu mundo. Não podia ficar na ilusão da mistura.

O riacho cantava coisas longas. O mundo sobreviveu na pedra na areia do rio. Longe dos abismos vi o amanhã recomeçar, vi, ao entardecer, os raios de sol, as veias das árvores plantadas junto às sepulturas recolher os restos dos que não puderam voar, sem exalar perfumes nem exibir nos olhos as cores do arco-íris.

A paisagem se defende da mão, do olhar, do som. Inventa o silêncio. Assim se fez o homem e a paisagem na descrição do mundo.

Fujo da mão que engaiolou o pássaro, prendeu o animal, plastificou a flor, desviou o curso dos rios.

Para te receber, colhi o fruto maduro. Para saciar tua sede, a folha úmida, para enfeitar teus cabelos, a flor azul, para iluminar tua voz, o som dos pássaros, para embalar teu sono, o murmúrio da cachoeira. Para ficar contigo abri um sulco em minha alma e te tornei semente. Para te receber violei, prendi, menti.

Despojada das asas, absorvi o perfume das rosas de maio, voei com os pássaros de agosto, te possuí nas cores do arco-íris. Esqueci de viver.

Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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