Romulo Por uma educação patrimonial

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Óbidos é tida como a cidade mais portuguesa dessas bandas da região amazônica. E isso ainda é um fato. Basta caminhar pelo centro e observar as construções antigas que nos remetem as terras do além-mar. Digo que isso ainda é um fato, pois essa memória material arquitetônica está desmoronando juntamente com as paredes, e até mesmo ruínas, dos casarões passados que ainda resistem à ação do tempo e do próprio homem. Nesse sentido, um conceito de educação é primordial para a preservação tanto do espaço físico como da memória por detrás dessas paredes: educação patrimonial.

Embora esse conceito pareça ser novo, já que foi apenas em 1980 a formulação, no Brasil, da expressão Educação Patrimonial, a partir de experiências trazidas da Inglaterra e aplicadas aqui, no uso dos museus e dos monumentos históricos com fins educacionais. No entanto, já em 1930 o poeta Mário de Andrade apontava para a importância do caráter pedagógico dos museus e das imagens para as ações educativas. Mas o que vem a ser uma educação patrimonial? O próprio IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – a define como sendo “todos os processos educativos que primem pela construção coletiva do conhecimento, pela dialogicidade entre os agentes sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras das referências culturais onde convivem noções de patrimônio cultural diversas”.

Olhando para Óbidos, Santarém e outros municípios vizinhos, o que se percebe é que este conceito de educação ainda está muito longe de ser assumido pelo poder público e pela população em geral. Basta atentarmo-nos para as edificações que ainda resistem como, por exemplo, aqui em Óbidos, temos as ruínas do prédio onde funcionou a sede da Companhia Francesa (nota: em 2011 a prefeitura de Óbidos recebeu do Ministério Público Estadual recomendação para que, dentro do prazo de dez dias, fossem tomadas as devidas providências quanto à conservação e manutenção do antigo casarão), o estado de abandono do Mercado Municipal, do Complexo Militar do Quartel de Óbidos composto do Antigo Quartel de Óbidos e da Defesa Gurjão bens tombados pelo Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado (Diário Oficial 30.01.1998) e dos casarões do centro histórico da cidade. Mas não basta somente que o governo restaure e requalifique esses espaços. É necessário educar para o patrimônio, pois somente por meio da educação popular é possível “assegurar a defesa permanente do patrimônio de arte e história do país”.  Vale lembrar que em Óbidos a Secretaria Municipal de Educação instituiu nas escolas municipais a disciplina História de Óbidos. E que também, em tempos não muito remotos, o Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural e Artístico de Óbidos solicitou o tombamento do Centro Histórico desta cidade. E vale lembrar também a importância do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap – na preservação da memória cultural amazônica.

Embora ações desse tipo contribuam para a salvaguarda memorial do patrimônio amazônida, tanto material como imaterial, é preciso antes de tudo educar. Fazer valer nas escolas o uso educacional de museus, arquivos e centros históricos como já preveem os Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental (Brasil, 1998). Educar também a população para que esta se torne turista de seus próprios monumentos: visitando, fotografando, respeitando e, principalmente, preservando. Pois, ninguém melhor que a população para guardar seu próprio patrimônio.

Obs: Imagem enviada pelo autor: Casa onde funcionou a Sede da Companhia Francesa em Óbidos

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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