Walter Cabral de Moura 15 de janeiro de 2016

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Um índio atirou uma flecha em uma árvore
e ela sangrou resina por muito tempo
mas não morreu e o índio de má pontaria
nem mesmo foi castigado porque
alegou que tentava flechar a caipora
quando uma nuvem preta cobriu seus olhos
e seu disparo saiu incerto.

Depois, ao chover no local
veio um relâmpago que fulminou a árvore
e o índio apavorado gritou por Tupã
que havia tomado banho na água mágica
e virado um homem branco, deus do trovão.

Esse homem branco tomou todas as terras
e ocupou as matas e igarapés
restou para o índio somente uma trilha
que fugia e se embrenhava
e fugia e se embrenhava.

O índio, embora sem temer o deus branco
chorou de dor por perder suas matas
e arrependeu-se de todo coração
por ter atirado uma flecha em uma árvore
que sangrou resina durante muito tempo.

Obs: Texto retirado do livro do autor – Livro dos Silêncios
(Publicado em Vidas Secas, Revista de realidade, cultura e o escambau. Recife, 1980)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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