Djanira Silva 1 de janeiro de 2016

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Para onde vamos ninguém sabe. Para outro mundo, para o fundo do mar ou para as dunas do deserto? Ela que sabia de muitas alegrias e de todas as dores, não sabia de nada. Trazia, sim, o pensamento preso, amarrado numa corda elástica, indo e voltando entre o ser o não ser na transcendência que faz a diferença entre tragédia e drama. Lembrou de Prometeu que prometeu a esperança aos homens e foi condenado por acreditar que a tragédia humana não passa de uma farsa – humanamente dominados pelo destino. Deus põe freios nos homens que não conseguem descer as ladeiras, sozinhos.

Quando resolvi escrever meus pensamentos estava até muito lembrada, depois esqueci e achei foi bom. Bom mesmo seria que a gente pudesse espremer o juízo e as lembranças saíssem pelos olhos, pelos ouvidos, pela boca, pelos dedos e eu nem sei o que está acontecendo, vá ver é a inspiração que de vez em quando dá uma de doida e de repente me faz pensar que sou escritora, coisa que ninguém tem culpa. Nem consigo governar o pensamento doido e como todo doido é livre, entra em qualquer lugar, inventa coisas que até o diabo duvida, não ocupa espaço, manda nos olhares, nas idéias, em tudo. Entra e sai sem pedir licença, sem avisar.

Como abrir a porta, não sei. A mão puxa e não encontra a saída e nem por isso o caminho deixa de existir e nem eu deixo de viver congelada, do lado de fora da vida. Caminhar não me detém, seguir não me faz existir, quando volto invento estradas.

O olhar cria cenas, inventa histórias. A mulher passa, carrega sacolas. O menino anda de bicicleta, joga bola, gente grande se equilibra no meio fio. O jornaleiro entrega o jornal, somos escolhidos sem poder escolher, repetindo as falas, desempenhando um papel bom ou ruim. A mulher diz que não mente e pinta os lábios de vermelho, usa sapatos de salto para dizer que é alta, usa sutiã para empinar os peitos flácidos e caídos, usa perfume para esconder o mau cheiro e há quem diga que é transparente. Deus nos livre, se assim fosse a gente poderia ver as lombrigas e o rei na barriga, e já fui a enterro de muito rei que vivia na barriga de gente besta e hoje estou diante de um mundo sabido, de um computador que escreve em vermelho os meus erros, só não posso deixar de pensar senão minha cabeça cai feito bicicleta parada.

Obs:  Texto do livro da autora – Doido é quem tem juízo –

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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