vladblog
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O hotel e o shopping eram ligados como irmãos siameses. De um dos restaurantes do hotel, a vizinhança com as lojas do piso inferior do shopping, era uma realidade. Isso em Frankfurt. Batíamos perna no shopping, depois do almoço, quando, do alto-falante, uma mulher falava alto, e, de repente, a multidão começou a descer as escadas rolantes, com certa pressa, e, no meio, Cristiane, Pedro e Vladimir, que iam na minha frente. Também desci, sem entender bulhufas do que estava a ocorrer. O que me remoia na cabeça era o porquê dos meus descerem assim, tão rapidamente, sem, ao menos, me convocarem, eu que de alemã nada domino.

Descemos todos, parando eu no hotel, com os meus seguindo adiante. Fiquei, tranquilamente, a me servir de um gostoso licor que o hotel deixava ao dispor dos hóspedes. O que me recordo é a cara de espanto que dois seguranças faziam, ante a calma com que sorvia o licor. Enquanto isso, o hotel se esvaziava, e, aí, então, cheguei até a porta e pude, enfim, captar que, pelo número de pessoas lá fora, cozinheiros com seus chapéus brancos, porteiros, seguranças e demais servidores, além dos hóspedes, alguma coisa estava a acontecer ou ia acontecer, o que justificava a saída brusca e rápida de Cristiane ao lado dos meninos e de todos os hóspedes.

Então, fui informado que havia sinais de um incêndio, muitos com os olhos voltados para o alto, na busca de fumaça. Imediatamente, um servidor do hotel serviu garrafas de água mineral, e, em menos de dois minutos, os bombeiros apareceram. Assimilei, assim, a situação, embora a destempo, entendendo o olhar de espanto dos seguranças enquanto eu bebia licor.
Dei um mergulho no passado. Aluno do Ginásio, assistindo a um filme no cinema do padre, ouvi um barulho vindo do alto, como se um poste tivesse caído em cima do forro. Os espectadores, em todos os lados, iniciaram o corre-corre, pelas largas portas que o cinema dispunha. Só eu fiquei, sem entender, também, a princípio, o que acontecia, da mesma forma, que, num enterro, conversando ao lado de diversas sepulturas, sentia no ar um cheiro diferente, que incomodava. Só depois de alguns minutos fui alertado para sair do local: estava na frente de uma sepultura de três dias. O defunto fedia. E eu, hein, nem chegando nem saindo. Voando.

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Obs: Publicado no Diario de Pernambuco.
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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