O serviço de Alto-Falante realizava comunicação em massa semelhante aos programas das emissoras de rádio. Não aprimorava conhecimentos nem valores. Estilo popular com linguagem que não obedecia as normas gramaticais, no entanto, adequada à época e ao lugar. Com vinhetas natalinas anunciava promoções em estabelecimentos comerciais, festas, aniversários e achados e perdidos. A maior atração era o momento em que o locutor divulgava desejos, ilusões, fantasias e paixões não correspondidas. Todos ficavam atentos aos anúncios: “um alguém de camisa azul oferece a uma jovem de saia estampada a música que segue”; “um rapaz que fuma Minister oferece a uma moça que está na onda a música Meu primeiro amor”. A identidade era escondida ou sutilmente alterada para preservar a confidencialidade dos apaixonados.
A confusão formava-se quando o anúncio identificava os homenageados por um apelido não desejado, como Valter Xixi, Penico sem tampa, Flor do Lodo, Fala Fino e Cheiro de Gambá. Josias era um baixinho horroroso. Tinha 1,60 m de altura quando usava sapato alto. Seu rosto triangular e grande parecia uma castanha de caju invertida. Contudo, a alcunha de baixinho estimulava seus instintos primitivos de agressividade. Na noite de Natal, inesperadamente o serviço de alto-falante anunciou por três vezes: “uma adolescente de olhos castanhos perdidamente apaixonada oferece a Josias baixinho, que está andando de Tivoli, a música Encosta a cabecinha no meu ombro e chora’’. O anúncio enfureceu sua disposição e desencadeou condutas hostis. Prestou queixa na delegacia e prometeu identificar o autor pela caligrafia. Quando o delegado localizou na lixeira o papel amassado e encardido, a escrita na nota era datilografada. Josias ficou desapontado e desconfiado de todos, menos do Dr. Vladimir. Engolindo brasa e arrotando fogo, foi pra casa dormir e passou várias semanas sem cumprimentar seus estimados e solidários amigos.
Obs: O autor é médico e membro da Academia Itabaianense de Letras.