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Era período chuvoso e as várzeas obidenses estavam alagadas e, com isso, o perigo das cobras aumentava. A Bajara – embarcação de pequeno porte com motor a diesel – cortava a água barrenta do gigantesco Rio Amazonas com destino às comunidades quilombolas de Óbidos.

Os passageiros se acomodavam em meio aos sacos de mantimentos e os bancos rústicos da pequena embarcação que, para os principiantes navegantes, aparentava não oferecer o mínimo de segurança. Mas como a fé do povo é grandiosa, íamos mais levados pelas mãos do Criador do que pela confiança no minúsculo barco.

Saímos do Rio Amazonas e já navegávamos em um Igarapé sinuoso e cheio de novidades para os nossos olhos. E entre um comentário e outro dos passageiros um me chamou a atenção pela singularidade de seu desfecho.

A senhora que narrava o episódio aparentava ter uns 60 anos bem vividos e recheados de um aprendizado com a natureza generosa.

Seu rosto era curtido pelo esforço do trabalho da roça, suas mãos eram calejadas pelo manuseio, de certo, da enxada e do terçado e seu linguajar era típico desse povo caboclo do beiradão.

Contava a simpática senhora que aquela época era de muitos perigos por causa das chuvas e da enchente dos rios. Por conta desses fenômenos naturais as cobras, à procura de locais secos e seguros, eram visitantes freqüentes das moradias e o pior é que elas não tinham mais medo das pessoas.

“- Não é que outro dia o cumpadre “Nenas” ligou o rádio de madrugada e foi deitar pra vê se ainda cuchilava um puquinho quando de repente o galo cantou no rádio pra dar a hora certa e nem bem o bicho fechou o bico, o “Nenas” só ouviu o barulho da queda do rádio de cima da mesa. Ele rápido acendeu a lamparina pra olhar e viu uma Sucuriju – Mesma Sucuri – agarrada com o rádio. Ela só pode tê pensado que o galo tava dentro do rádio e laçou o bicho.

Essas serpentes não têm medo mais de nada.

E o “Nenas” nem matô a desgraçada!

Mas quando que se fosse lá em casa ela não tinha murrido!”

Obs: O autor é  Professor da Rede Pública Municipal de Santarém.
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA. Técnico em Educação na Rede Estadual. Especialista em Ciências Sociais para o Ensino Médio e autor do livro – Brinquedo: Contos e Poesias.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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