[email protected]
domsebastiaoarmandogameleira.com
(Em memória de José Comblin, profeta entre nós, com gratidão e saudade)
Pobre,
empobrecido até no nome
de estranho feito nosso
sem qualquer sinal
de poder clerical:
restavam
só os paramentos da missa
em antigas lembranças
um retrato de paletó e gravata preta
em qualquer parte
de calça, camisa e alpercatas.
Desarmado, inerme
toda sua força na palavra
e na fina ironia
a arma de quem se sabe
sem poder.
Frágil, tímido
silencioso
só denúncia e anúncio
que a tantos irritavam
poderosos, estrondosos
desejosos de apagar
“a voz que clama no deserto” (Mt 3, 3).
Se o esbofeteassem
nem saberia reagir.
Importante arcebispo (elevado a cardeal por “serviços prestados”)
o agarrou pelo pescoço
nos corredores de Puebla de los Ángeles
inapagável
simbólica cena
do poder que sufoca
se insistisse
era fácil matá-lo.
No instante
“anjos das Igrejas” (cf. Ap 1, 20) aparecem a correr
o “excelentíssimo” criminoso
sórdida fantasia do desejo
apopléctico
larga a presa
como “o passarinho
livre do laço do caçador” (Sl 124, 7).
Também nos corredores do templo
ocorrem dessas coisas
o príncipe das trevas
sempre de tocaia
num canto da casa de Deus.
Ele sabia de Apocalipse:
nas lutas da terra
travam-se batalhas dos céus.
Jeito de dizer
Justiça e Paz, combates nossos
infinitamente além de nós
batalhas de Deus.
Padre José
testemunha de pé
diante do Trono
a cobrar o sangue de mártires (cf. Ap 6, 9-11).
“Morrer, não tenho medo da morte”,
palavra final
já desprendido de si
o sorriso de sempre
como todos os justos
“passado da morte para a vida” (1Jo 3, 14)
pela “chama do Amor arrebatado”.
(Primeira redação em 2012, em “Novos Desafios para o Cristianismo – a contribuição de José Comblin”, pg 103-105. Com algumas pequenas correções.)
…
Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB
Obs: Imagem enviada pelo autor.