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“Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo de plantamos” (Provérbio chinês)

 Ao descrever a endêmica corrupção que grassa os cofres públicos do Brasil, não é possível ser simplista. Não há única explicação capaz de abarcar a complexa e permissiva cultura brasileira que acoberta quem corrompe e quem é corrompido. No entanto, preferível ter opinião, mesmo com o risco de não poder explicar a complexidade da realidade de um país que agora se descobre além de lindo, maravilhoso, de oportunidades, também corrupto.

Conversando desinteressadamente com experiente político do sul do Brasil, ouvi: “é o próprio povo que corrompe os políticos”. Inicialmente dei-lhe razão, mas pensei mais amplamente a afirmação. O povo tem atitudes que colaboram com a corrupção, mas os políticos, e antes os colonizadores, foram aqueles que praticaram corrupção para benefícios pessoais e próprios. Diria simplista acusar a população brasileira pela origem da corrupção, deixando os políticos livres de acusação. Por outro lado acusar somente os políticos pela corrupção é outro simplismo que não cabe na nossa história brasileira.

No princípio da colonização do Brasil, esta Terra foi Paraíso. Sendo um paraíso, aqui tudo podia. Como não havia leis, tudo estava liberado para a exploração desmedida, arrogante e prepotente dos colonizadores. Nesta época localizamos uma emblemática sinergia dos espelhos: o colonizado foi iludido de sua condição de inferioridade. Quando os nativos indígenas foram presenteados com espelhos, a intenção era que não vissem refletidos sua própria imagem. Os espelhos foram mostrando e confirmando aos mesmos a imagem cruel e discriminatória dos exploradores e enganadores. Sem querer, foram também assimilando parte de seus ideários.

Os espelhos dados como presentes aos povos indígenas constituíram uma identidade que não era a mesma dos que aqui viviam e povoavam. Os espelhos revelaram a sutil crueldade dos colonizadores que se apossaram da inocência e pureza dos colonizados. Os espelhos refletiram a corrupção, o roubo, o assassinato, o jeitinho fácil e enganador, a ideia da vida fácil.

Quando construímos a República, não assimilamos seu princípio fundamental: o respeito sagrado ao que é de todos. Muito antes, pelo contrário, alimentamos  falsa ideia de que o que é público não é de ninguém quando o que é público é tudo aquilo que tem um dono: todos.

A camaradagem foi nascendo como jeito de nos relacionar e fazer negócios. Somos conhecidos no mundo por nosso jeito de sempre burlar as leis e as normas que nós mesmos construímos. Construímos leis com base em oportunismos de ocasião, para sempre beneficiar uns poucos que ainda terão mais uma chance de perpetuar seu poder e sua influência na sociedade. Pense comigo em quantas leis que criamos, em período recente, com a intenção clara e intencionada de acomodar o interesse de alguns poucos.

Não tenhamos vergonha de nossa história e também não é caso de assumirmos “vergonha na cara”. Precisamos entender que o Brasil nasceu como nação por uma sinuosa e deliberada sacanagem: o roubo e apropriação de tudo o que era daqui. Esta, com certeza, é parte significativa para explicarmos nossa endêmica corrupção. Mas aqui também fazemos a história da resistência, das lutas, das conquistas de cidadania, dos direitos humanos, do reconhecimento e da dignidade humana. Desta história, devemos nos orgulhar muito.

Viva o Brasil, feito por brasileiros! Brasileiros não desistem nunca!

Obs: o autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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