MInezEspSanto

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Foram as crianças que me levaram a prestar atenção às mulheres. Observando e ouvindo as mães de meus alunos, nos tempos da Escola Viva,  fui descobrindo o imenso poder que nós, mulheres, temos na construção do mundo. E percebi também, com assombro, como muitas mulheres não têm consciência disso e, portanto, como não podem se responsabilizar por essa tão forte influência, boa ou má que seja.

Depois, na escuta de consultório, confirmei essa verdade: a mulher de nossos dias não se dá conta de que é ela quem molda o mundo, simplesmente ao criar e educar as crianças. E isso, que chega a ser assustador, pode ser maravilhoso! Basta que haja comprometimento com o tipo de ser humano que se quer formar. E que se possa fazê-lo com toda a alma!

Hoje, coordenando grupos de leitura e reflexão, são normalmente as mulheres que aparecem, em maioria, para participar do trabalho. Têm mais curiosidade? Mais coragem? Mais necessidade? Um pouco de tudo isso? O certo é que elas chegam, ali,  sempre dispostas a trocar. E crescem, nesse compartilhar de suas experiências, a olhos vistos, rápida e intensamente!

Algumas, mais tímidas, no início, têm dificuldade em ouvir a própria voz. Recusam-se a ler ou o fazem em voz inaudível. Outras, em sua  primeira apresentação  para o grupo, não acham nada de interessante pra dizer de si mesmas. Há as que choram, mal iniciam uma fala e também as que se negam a dar qualquer pista de seus sentimentos, demorando a fazer observações durante as interpretações. Contestadoras de carteirinha, algumas teimam em propor novas formas de trabalho, antes mesmo que se inicie o  processo, enquanto, as do tipo “boa aluna” se comportam de forma tão exemplar, que parecem estar apenas esperando pela hora da entrega do boletim, para saberem seu valor. É possível ver, nessas “marcas” o enfraquecimento da genuína  energia feminina nessas mulheres.

Mas todas essas dificuldades vão desaparecendo e a possível dificuldade inicial se transforma, em poucos encontros, num agradável espaço de intimidade e compartilhamento de tal forma verdadeiro e profundo, ao mesmo tempo que natural e amoroso, que vai permitir que apareçam, então, a personalidade e a história real de cada mulher.

É nesse momento que se pode ver surgir a energia que forja o mundo, criadora original e única. O que de mais interessante existe, nisso tudo, é poder constatar o entrelaçamento dos relatos individuais. E, mais significativamente ainda, a extensão incomensurável dessa trama, que junta as histórias das mulheres do consultório e dos grupos de leitura, com aquelas que conheci lá na Escola e com as mulheres da zona rural, com quem convivo, hoje, em meu Sítio Retiro.

Tenho sentido, assim, que moram dentro de cada uma de nós, simultaneamente, todas as mulheres que existem, bem como todas as que já existiram, em todos os tempos. Penso que  é essa a força ancestral que cria e recria o mundo incessantemente: a herança matrilinear, de que fala Clarissa Pinkola Éstes. A essência mais pura do feminino.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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