Estava a ti espiar. Chegaste pisando leve, quase que flutuando. Olhando para um lado, para o outro. Desconfiada e insegura. Levantaste o olhar para cima, vendo árvores, pássaros, uma réstia de sol que filtrava entre folhas e tu querendo enxergar muito além daquilo que as árvores encobriam.
Então, tudo verificado. Tu, com muito cuidado, quase como que te acariciando, devagar, com ar pudico e virginal, um jeito envergonhado, foste tirando a roupa, pensando em mergulhar naquela água plácida e límpida que, igual a um espelho, admirava tão encantadoras formas, esculpidas pela natureza e imortalizadas, naquele instante, pelo riacho que se quedou paralisado para contemplar tanta formosura.
A água parada e morna, à espera que nela entrasses, queria te molhar por inteiro, encher-te por completo, deixando-te lépida e feliz.
Ah, como eu queria ser essa água que te tem inteira, que se amolda ao teu corpo da cabeça aos pés, que te deixa lânguida e confiante.
Deixa, por favor, por um milésimo de segundo que eu me achegue a ti, para que me sintas e possas, assim, rejeitar essa água invasora que não teve o cuidado de esconder de mim tua formosura, em esplendor.
Quero ser teu único admirador e senhor, pois, como dizia Gonçalves Dias: “Comigo fica, ou leva-me contigo, dos mares amplidão, límpido ou turvo, te amarei constante, mas não me deixes, não!”.
Ponho em tuas mãos meu riso, minha alma, minha vida, meu amor, pois o antes de tu não existiu, o hoje em ti se encerra.
O futuro em teus braços quero viver. Acolhe-me!