
A Catedral de Colônia, imponente e superlotada de mil apetrechos, no estilo da de Milão e da de Barcelona, marca seu lado exterior pela cor escura, que o tempo impingiu, o que não lhe retira a beleza conjuntural. Do lado esquerdo, um grande espaço quadrado, que serve de caminho para os que chegam e os que saem. Sentado, à certa distância, no banco que o granito formatou no cercado de um jardim, me situo, a apreciar a Catedral, atento a multidão de turistas que por ali passa, parando para as costumeiras fotos, gente de todas as latitudes do mundo, preocupados em marcar presença, no sítio, com a Catedral funcionando como pano de fundo, além daqueles que procuram fotografa-la isoladamente, na busca de uma posição favorável.
E eu lá continuo, sentado, a prezar tudo que passa a minha frente, atento aos movimentos de pessoas que, portando sacolas, procuram embalagens metálicas de refrigerantes nas caixas de lixo; de outras que estendem as mãos em busca de uma esmola; de quartetos e quintetos que, nas proximidades da Catedral, soltam o verbo, digo, liberam o som, caixa aberta no chão para os euros jogados por alguns turistas; de turistas ou nativos, alguns, com suas roupas esquisitas e extravagantes, quiçá procurem lançar modas ou serem notados; de uns pouco que buscam um lugar na sombra para saborear pequeno almoço ou um sanduíche.
O que vejo e aprecio vale a longa viagem. A rua é o palco ideal que me oferece a paisagem do homem, da terra ou alienígena, que se desloca, ou para o trabalho, ou para o bater perna aqui e ali, mapa da comunidade na mão, em todo lugar, a pedir informações.
Não perco um movimento, o olhar discreto para todos os lados, como quem não quer nada. Depois, ao recuar para o hotel, ali bem perto, vou abrindo o livro do passado, para me rever na porta do meio da loja de papai, no Largo da Feira, onde praticamente assentava praça, aproveitando o ensejo do sol permitir, a fim de ver as pessoas que por ali se locomoviam, num movimento contínuo e progressivo, homens, mulheres, jovens e crianças, todos conectados à grande feira de Itabaiana. O mais de meio século depois não me tirou esse hábito, de apreciar a multidão que passa, o que, nas viagens, abro as comportas para extravasar.
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco.
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.