Malu Nogueira 15 de outubro de 2015

2009-01-30_220800

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Caminhei até Santiago,
Não me cansei.
Fui feliz e bem recebida
Andei por ruas milenares
Sob chuva e frio intenso
Escorreguei em chão de pedras
Bebi água em chafariz,
Fotografei recantos insólitos,
Em ruas estreitas, feito labirinto,
Assombrei-me com seres e deuses mitológicos
Que, como guardiões, em altas muralhas.
Protegem a cidade de São Tiago
Anjos e santos recebem
Peregrinos de todos os recantos e,
Hoje, eu, do outro lado da Terra,
Faço outro caminho.
Em chão preto milenar,
Porém, sem, o dedo do apóstolo Tiago,
Mas o dedo de Deus,
Firme, apontado para o céu,
Caminhei pelas trilhas de Fernando de Noronha.
Por lugares íngremes
Guiada por seixos de pedras vulcânicas, pretas,
Arredondadas ou pontiagudas
Ou, seguida, à distância, por tejus ou mabuyas travessas e lentas
Que me encantam e me divertem,
Por sua curiosidade e roubalheira.
Subi pela bacia do Sancho
Desci pela Cacimba do Padre,
Sob um sol escaldante.
Corri até a baia dos golfinhos
Parei no Boldrói – pedra lisa.
Pasmei de admiração!
Vi tartarugas gigantes e mansas
Que não têm medo do tempo
Que não correm para ver tanta gente passar
E nem se escondem do homem curioso
Seguem firmes para as ilhas secundárias,
Que acolhem seu repouso.
Privilégio tem as viuvinhas brancas,
Que constroem suas casas em lugares paradisíacos
Dessa floresta atlântica insular,
Que enchem de inveja quem de longe as observa.
Pode ser a branca ou a preta
Ambas infestam a ilha de Fernando de Noronha.
Meus olhos ficam verdes,
Como o verde esmeralda que cerca toda a ilha.
Na espuma branca que se junta a todo esse verde
Qual véu de noiva a espera do noivo amado,
Tais são as ondas que beijam as praias de Noronha
Atobás nos vigiam, em galhos de árvores seculares,
Ora descansam, oram guardam,
Com suas cabeças pendentes
Fiscalizam as encostas tingidas do excremento branco
Expelidos por todas as aves
E que adubam e se transformam no guano
Que dá vida a outras espécies
Nas cortinas de feixes de raízes secas,
Que ornamentam toda a paisagem
A descortinarem a chuva que não se firma no horizonte
Na esperança de competir, em esplendor,
Com a esmeralda do Atlântico,
Que não se agiganta, nem se envaidece
Por ser tão perfeita!
Ninhos de aves, por todo o caminho,
Em elevadas encostam
Dividem, sem confusão,
Seus abrigos, com as viuvinhas, atobás,
Mumbebes ou fragatas
Que se recolhem, em alarido feliz
Pelo dia que se põe
E assim, Noronha fecha-se,
Sob as rochas dos altos paredões
E espera, silenciosa,
Por um novo raiar do dia.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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