Ronaldo Coelho Teixeira 1 de outubro de 2015

Ronaldo Pagando pau

[email protected]
http://ronaldoteixeira.arteblog.com.br/
http://ronaldo.teixeira.zip.net/
http://lounge.obviousmag.org/espantalho_lirico/

Sempre fui ligado à música. Por ter uma origem nordestina, e tendo sido criado no então norte de Goiás, hoje Tocantins, as possibilidades de se ouvir (conhecer) uma boa música naquele tempo eram remotas. Mas fui crescendo e descobrindo (curioso que sou) as incríveis melodias que este imenso e rico país oferece. E, naturalmente, comecei ouvindo as sertanejas, Roberto Carlos, entre outros da dita música brega. E, Claro, os hits internacionais, influências da TV e das rádios. Depois, fui achando outros valores, tais como: o pop rock nacional (Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, etc.), a MPB de Chico Buarque, Caetano Veloso, Luis Melodia, entre tantos.

Atualmente, a onda é o sertanejo universitário. Mas essa nova mania nada mais é do que a dita música brega dos anos 70 do século passado, repaginada, mas pra pior. Porque além de não conter nenhuma mensagem social, a poesia (pobre, mas poesia) piegas praticada naquele tempo continua, mas cada vez mais sem ao menos o lúdico, item vital para que possamos suportar as agruras desse dito mundo civilizado e fator necessário para o equilíbrio mental de cada um. Porque manchar o belo e bravo nome de sertanejo com um subgênero da música inicialmente de raiz é, no mínimo, pobreza social e intelectual. Mas vamos ao início de tudo para tentarmos entender porque hoje se ouve o dito sertanejo universitário.

A música caipira ou sertaneja surgiu por volta da década de vinte do último século, praticada por compositores rurais e urbanos, com predominância dos primeiros, quando o som da viola era o principal, e os gêneros musicais praticados variavam entre modas, toadas, cateretês, chulas, emboladas e batuques. O folclorista Cornélio Pires, em seu livro “Conversas ao Pé do Fogo”, assim descreveu a música caipira da época: “Sua música se caracteriza por suas letras românticas, por um canto triste que comove e lembra a senzala e a tapera, mas sua dança é alegre”. Assim, a primeira era da música sertaneja iniciou-se por volta de 1929, a partir das primeiras gravações comerciais, tendo como principais ícones as duplas Alvarenga e Ranchinho, Torres e Florêncio, Tonico e Tinoco, e Vieira e Vieirinha. Até então, o gênero era conhecido como música caipira porque retratava em suas letras a vida do homem do interior.

A era seguinte começou após a Segunda Guerra Mundial, com a incorporação de novos estilos: os duetos com intervalos variados e o mariachi; de gêneros: a guarânia, a polca paraguaia, e o corrido e a ranchera mexicanos; e de instrumentos: o acordeon e a harpa. Os destaques desta época foram Cascatinha e Inhana, Irmãs Galvão, Irmãs Castro, Sulino e Marrueiro, Palmeira e Biá, o trio Luizinho, Limeira e Zezinha, e o cantor José Fortuna.

A introdução da guitarra elétrica pela dupla Léo Canhoto e Robertinho no final da década de 60 foi o grande divisor da terceira era na música sertaneja. Sérgio Reis, lançado pela Jovem Guarda, em setenta, também adere ao movimento sertanejo. Nesse período, o gênero começa a ser divulgado nos circos, rodeios, nas rádios AM e, a partir da década de 80, nas FM e também na televisão, chegando até a compor as trilhas sonoras das telenovelas. Desta era, destacam-se: Trio Parada Dura, Milionário & José Rico, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano, Chrystian & Ralf, João Paulo & Daniel, Chico Rey & Paraná, e João Mineiro & Marciano.

A quarta era é o proclamado sertanejo universitário ou new sertanejo, cujas características são um som mais eletrônico, um ritmo mais acelerado e os temas abordados são festas e mulheres, algumas com letras ditas engraçadas. Foi assim denominada no final da década de 90 porque seus maiores apreciadores são universitários. E alguns representantes desta são: João Bosco & Vinícius, César Menotti e Fabiano, Jorge & Mateus, Victor e Léo, Fernando & Sorocaba, e João Neto e Frederico.

E pensar que nas décadas de 60 e 70 os estudantes universitários ouviam e pautavam suas condutas sociais e políticas nas grandes canções dos festivais de MPB. Hoje, quando o sertanejo universitário responde por sete em cada dez músicas pedidas nas rádios, deduz-se que o nível educacional brasileiro caiu vertiginosamente. E o que pensar então da qualidade dos profissionais que anualmente vão para o mercado? Eis o saldo: alienação da realidade social e pura massa de manobra, pão e circo. E para ficar num (pobre) trocadilho de uma dupla representante da dita classe universitária, atualmente estamos todos, literalmente, “pagando pau”.

….
Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]