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Nesses dias, o mundo recordou aunificação da Alemanha, quando no dia 03 de outubro de 1990, durante uma noite, milhares de pessoas derrubaram, com as próprias mãos, o muro de Berlim. Além de dividir uma cidade em duas, aquele muro construído no início dos anos 60, simbolizava a chamada “cortina de ferro” entre a Europa Ocidental e o Bloco de Leste. O muro de Berlim tinha 66,5 km de grade metálica, 302 torres de observação, 127 redes eletrificadas dotadas de alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. As estatísticas oficiais falam em centenas de pessoas mortas e milhares aprisionadas na tentativa de transpor aquele muro.
Agora, a Alemanha celebrou o aniversário de 25 anos da queda do muro de Berlim, levantando um novo muro em suas fronteiras para deter a onda de migrantes que tentam entrar na Europa. Não era mais necessário um muro de tijolos e concretos e sim uma muralha de desamor, preconceito e discriminação. No momento atual, os migrantes servem para que os governantes de uma Europa em crise mortal desviem a atenção de seus eleitores para que não percebam os fracassos da política econômica oficial e da falta de perspectivas. Esses governantes fazem dos migrantes o inimigo externo do qual precisavam para fugir do julgamento coletivo. E jogam nos migrantes a culpa do desemprego e da decadência da sociedade europeia, provocada pelo veneno do que o papa Francisco tem chamado “a cultura da indiferença na qual o lucro é muito mais importante do que as pessoas”.
Durante séculos, as potências da Europa exploraram os territórios e as populações dos países africanos. Roubaram da África tudo o que podiam e condenaram os africanos à fome e à miséria. Agora, aos sobreviventes que fogem da morte, negam a última esperança de vida. Nos anos mais recentes, os mesmos governos da Europa, junto com o dos Estados Unidos, armaram os rebeldes da Síria e tornaram esse país um inferno vivo. Agora estranham que os sobreviventes de uma guerra mortífera batam às suas portas.
Na Idade Média se erguiam muros em torno das cidades. Agora, são países que constroem muros para se proteger de migrantes. Na fronteira dos Estados Unidos com o México, um muro alto percorre 300 km de extensão. Em sua sombra, abundam cadáveres de latino-americanos, eletrocutados ao tentarem atravessar o muro, ou abatidos pelos guardas do Império. Um muro imenso separa o Estado de Israel dos territórios palestinos ainda não ocupados. Outros muros dividem a Índia do Paquistão. Mais violentos ainda do que os muros de concreto são os do mercado elitista que excluem milhões de pessoas de qualquer possibilidade de uma vida digna. No mundo inteiro, pessoas se comovem ao ver a fotografia do pequeno Aylan, a criança síria de três anos, morta em uma praia da Turquia, quando seus pais tentavam entrar na Europa. Mas, poucos dias depois da morte de Aylam, calculam-se em, ao menos 250 pessoas entregues à morte no Mediterrâneo para não aportarem nas costas europeias.
Embora alguns bispos e cardeais tenham se pronunciado para que a Europa só acolha migrantes cristãos, o papa apelou para que todas as dioceses, paróquias e conventos abram suas portas para acolher o maior número possível de migrantes e refugiados. A Bíblia lembra aos antigos israelitas: “Lembra-te que foste migrante e refugiado no Egito. Portanto, trata bem o estrangeiro que mora em teu meio”. E, para mostrar que Jesus retoma a vocação e o destino de Israel, o evangelho de Mateus conta que, assim que Jesus nasceu, José, seu pai, teve de fugir com a família para o Egito afim de escapar da perseguição do rei Herodes. Quando nenhum muro puder mais conter os direitos humanos de quem procura sobreviver e as fronteiras da Europa se mostrarem insuficientes para acolher as novas migrações, lembremo-nos de que, de um modo ou de outro, todos somos filhos de migrantes e refugiados. Somos todos filhos de uma única humanidade e, como irmãos e irmãs, cidadãos do planeta Terra, a nossa casa comum. Os cristãos são discípulos e discípulas de Jesus de quem São Paulo afirmou: “Ele derrubou os muros de inimizade que separavam os povos” (Ef 2, 13 ss).