Edilberto 2015 blog

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O Papa Francisco tem causado reflexões e estímulos a um novo modo de se encarar a vida no planeta. Tem sido duro em questionar o consumismo capitalista da época, tão desastroso às relações interpessoais e entre nações.

Infelizmente a presidente do Brasil não leva a sério as advertências do Papa. Os dois estiveram no plenário da ONU na semana passada em Nova York. O Papa Francisco fez um apelo insistente ao compromisso ético de todos os presentes no plenário, diante da urgência por causa das mudanças climáticas. Para ele a COP21 em dezembro próximo só terá sentido se, de um lados os chefes de estado tomarem decisões firmes e corretas e de outro, cada cidadão, organizações e igrejas também decidirem mudar comportamento ecológico.

Já a presidente Dilma Rousseff toma posição contrária em relação à Amazônia. Mal saiu da assembleia da ONU deu entrevista à imprensa, admitiu que seu governo cometeu erros na construção de Belo Monte, mas enfaticamente disse que não abre mão das novas hidroelétricas na região, começando com a hidroelétrica de São Luiz do tapajós. Aqui são sete grandes barragens projetadas.

A submissão da presidente ao Programa de aceleração do crescimento econômico é tão obsessivo, que mesmo com a grande crise econômico financeira porque passa o país, ela e seu ministro banqueiro, preferem cortar alguns bilhões de reais da educação e outros programas sociais, mas continuam insistindo que não abrem mão das hidroelétricas no tapajós e onde mais houver uma queda d’água. Para seu governo, os impactos sociais e ambientais são mínimos. Isto é, a expulsão de milhares de famílias ribeirinhas e povos indígenas que vivem ao longo da bacia do tapajós, assim como, a geração de gás metano e CO2 nos lagos a serem gerados e também a inundação de 130 mil hectares de floresta de áreas de proteção ambiental, tudo isso são mínimos impactos para ela que vive em Brasília e depois no sul do país.

Dois pontos de vista tão opostos e de consequências tão diferentes. Enquanto o papa faz um alerta ouvido por cientistas, políticos, líderes religiosos, a presidente brasileira age como se não tivesse nada a ver com os direitos dos outros. Para ela o que interessa é gerar energia para as grandes empresas, mesmo destruindo rios, florestas e povos. Depois com a cara mais lisa reconhece que cometeu erros nas construções de hidroelétricas. Admitiu em parte, apenas em Belo Monte, mas erros tão graves seu governo cometeu em Teles Pires, São Manoel, Girau e Santo António do Madeira. Mas sobre isso não admite nada.

Provavelmente ela não leu a recente encíclica do papa Francisco sobre o clima, a laudato Si. Ali entre outras afirmações ele enfatiza que “a falta de preocupação por medir os danos à natureza e o impacto ambiental das decisões, é apenas o reflexo evidente do desinteresse em reconhecer a mensagem que a natureza traz inscrita nas suas próprias estruturas.” Pg. 96. Isso não atinge a consciência obstinada da senhora Dilma Rousseff.

Estranhamente há pessoas aqui mesmo na região do tapajós que defendem tais projetos hidroelétricos, dizendo que são necessários para o progresso. Não importa ao desastres previstos, como revelam os danos na região do Xingu. Será possível?

Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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