Ana Eliza Machado 15 de outubro de 2015

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Passando a tarde na casa da minha avó, sempre corremos o risco de receber a visita de parentes distantes. Dessa vez, durante o almoço, ela comunicou que um sobrinho, um tal de Pedrinho, passaria ali para o café da tarde. Até aí, normal.
Chega então um dos “tios”, acompanhado com um homem de seus quarenta e tantos anos. Seria aquele o Pedrinho? E não é que era?! Ele vinha com a nova mulher, de mesma idade, com aquele sotaque de interior de Minas que é inconfundível.
E então começou: “Essa aí é sua menina mais velha? Mais como tá grande, sá.”; e em meio a esses comentários, a conversa foi vingando. “Era um sinhô barbudo que só, começô a tê dô na barriga, procurô o seu dotô lá de pertin de casa. Tava é com o bixo no figu”. Minha avó então traduziu, “Câncer no fígado?! Ô dó, era tão novin”.
O tal de Pedrinho que não era tão ‘inho’ então disse que precisava contar um causo. E é por causa do causo que eu escrevo.
“Nóis tinha ido passeá lá em Poços de Caldas” ele disse “E eu sentei do lado de um professô. Homem sabido, já véio aposentado, mais muito sabido ainda. E ele me preguntou: ‘Ô Pedro, cê sabe qual é a coisa mais bunita dessa vida?’, eu disse que não sabia, e ele arrepondeu: ‘A diversidade. Imagina se tudo fosse inguar assim?’.
Então eu desliguei. Sei que ouvi à meios ouvidos o final da “prosa”. Sei até que quase tive um acesso de risos quando ouvi que quando a gente quisesse visitar ele lá em Minas Gerais, era só chegar na igrejinha, que seu vizinho era o “véio Barnabé”. Mas eu só pensava no tal causo que o sobrinho da minha avó tinha contado.
E não é que fazia sentido? O português podia estar todo errado, e estava mesmo. Mas a ideia era tão certa. Lembrei daquele velho ditado: “o que seria do vermelho, se todos gostassem do amarelo?”. O mais bonito da vida é mesmo a diversidade. De cores, de sabores, de sons, de sentimentos, de toques, de cheiros. A diversidade e a escolha. Com essa visita, que não durou mais de uma hora, bem ao estilo caipira, aprendi tanto. Aprendi a não me deixar julgar pelo jeito que a pessoa fala. Aprendi a respeitar o simples. E aprendi a enxergar e dar valor a toda essa diversidade.
E como dizem os meus tios, ao se despedirem, “Até segunda, sá!”.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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