Jose-Albertoatualizado

Ex-Director do INETI (Coimbra)
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Não obstante o Verão ter entrado com um ar assaz envergonhado, decidi que era tempo de voltar a Sines. O Junho havia-se despedido sem deixar saudades e, muito embora, o Julho lhe tenha seguido as pisadas, optei por fazer as malas e partir. O envelhecimento reconhece-se quando a ténue luz da consciência dá conta da incapacidade para gerir o tempo que escoa, mesmo que saibamos que corremos por maus caminhos. O passado nunca me preocupou e, para gerir o presente, resolvi fazer um pacto com o futuro: nem eu fujo dele nem ele me persegue para me dizer o que devo fazer. Sob a ameaça de chuva e de temperaturas baixas para a época, fiz as malas e parti.

As notícias políticas que esvoaçam também não são animadoras e, entre vários males, o melhor que se pode fazer é escolher o que causa os menores estragos. As confusões surgem sobre a forma de novelo, cujos nós são difíceis de desatar, ressaltando como supremos enleios a nomeação de personalidades ligadas ao PSD para a gestão do BES, o novelo em que o PS se deixou envolver com eleições internas demasiado tardias e, finalmente, um Conselho de Estado cujos resultados seguiram a esteira do que haviam sido os anteriores, sob o olhar quase indiferente do Sr. Presidente da República que se afigura um quanto estático em relação às necessidades que a situação de Portugal impõe.

No meio do enleio, houve no entanto dois acontecimentos que vale a pena destacar: a ida de Sophia de Mello Breyner Andresen  para o Panteão Nacional e o Grammy atribuído a Carlos do Carmo. São acontecimentos que não nos tiram do novelo em que estamos entretecidos, mas ajudam a compensar o ego, já que em termos de futebol, a seleção portuguesa também se comportou ao nível dos tempos em que Portugal perdia sempre com a vizinha Espanha.

Nas sinuosidades do destino, usamos brigar com o desconhecido, à espera que rebeldes fugas da vida componham, com ou sem intervenção divina, o que está mal no país. Não admira, portanto, que de há uns anos a esta parte, a maioria dos portugueses ande de face marcada por um quê de cansaço e de desalento. Excluindo os ricos e aqueles que ainda estão a enriquecer à custa da situação, os portugueses caminham de mão dada com a carência, engolindo sofrimento.

E por tudo isto, fico suspenso num dilema. O passado é indiscutivelmente um lugar de visita, mas não é um local para se residir; porém, o presente é um tormento comandado pelo objetivo do lucro, onde o amadorismo e a filantropia só têm lugar quando o investimento é dedutível nos impostos, razão pela qual não consigo prever o amanhã.

Por Sines, já houve tempos (remotos e próximos) que iluminavam o porvir com projetos de espantar. Até há bem pouco tempo, os olhos ainda estavam pousados no mar, à medida que a rota do Cabo e, mais tarde, o Canal do Panamá pareciam estrelas que, por detrás de Héspero, iluminavam a esperança à boa moda de “Os Lusíadas”. Segundo a História, os portugueses nunca tiveram aptidão para, com humildade, irem cumprindo os deveres de vassalo, mas desta feita os dados estão lançados e jogam contra nós. Será que envelhecemos convictos que estamos a fazer uma grande obra?

A refinaria e o porto de carga têm contribuído para que a nossa balança de pagamentos não esteja pior, mas falta um longo caminho a percorrer. Aliás, o tempo não é elástico e, por maior que seja a alegria que Sophia de Mello Breyner e Carlos do Carmo nos tenham trazido, é preciso ter em conta que são boas notícias mas com efeito de placebo: amortecem a dor e outras sintomatologias, mas não curam o mal.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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