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A impressionante onda de migrantes, tentando entrar na Europa, está mostrando o seu lado trágico, e a complexidade de suas causas.

A situação tomou proporções assustadoras nestas últimas semanas, quando multidões humanas, fugindo sobretudo da guerra na Síria, começaram a forçar as fronteiras dos países da Europa Oriental, em demanda da Europa Ocidental.
O sonho da maioria é entrar nos países mais ricos da Europa, na esperança de lá encontrar sua sobrevivência, que nos seus países de origem está ameaçada.

Ao mesmo tempo, continua o fluxo dos que se aventuram a atravessar o mar Mediterrâneo, provenientes dos países pobres do norte da África, como a Líbia, a Tunísia, a Argélia, o Marrocos.

São muitos os ângulos que podem ser tomados como referência para entender esta complexa situação e esta tragédia humana.

Uma primeira constatação volta a mostrar sua evidência: é insustentável manter desigualdades tão gritantes entre os países. Com a globalização, todos os países se tornaram próximos. O mundo precisa se dar conta que, ou fazemos a globalização da solidariedade, ou transformamos o mundo em cenário permanente de guerra.

Outra constatação intriga agora a consciência coletiva da Europa. Durante séculos, os países europeus, no regime do colonialismo, submeteram os países africanos à dominação política e à exploração de suas riquezas naturais. Depois os abandonaram à própria sorte.

Agora todos se dão conta que teria sido muito melhor buscar em conjunto um desenvolvimento sustentável de todos os países africanos. Se assim tivesse sido feito, não estaria agora a Europa com o pesadelo de perder suas riquezas.

Ou partimos para a globalização da solidariedade, ou transformamos este mundo num foco permanente de hostilidades, inviabilizando uma convivência pacífica entre os povos.

Outra constatação é necessário fazer, referente ao Oriente Médio. O Ocidente sempre apoiou os regimes ditatoriais daquela complexa região. Agora se colhem os frutos amargos. Não existem lideranças que possam administrar a complexa realidade daquela região do mundo. As estruturas estatais são precárias, e o vazio político permite o surgimento de aberrações inesperadas, que tomam forma de “Estado Islâmico” ou de outras ditaduras que precisam ser sustentadas pela ameaça constante à liberdade e à segurança.

Por sua vez, a rica Europa começa a se dar conta que seus povos estão perdendo vitalidade. São populações que vão envelhecendo, sem ânimo para se renovarem. De acordo com projeções deduzidas de dados objetivos, se continuar esta tendência de envelhecimento e de cansaço vital, a Europa precisará, não só abrir as portas para que venham os migrantes, mas ir ao seu encontro, suplicando que tragam sua energia vital, que sustente os empreendimentos econômicos, e garanta a renovação da população.

Na dinâmica atual, em quarenta anos a população da Alemanha baixará dos 81 milhões atuais, para 70 milhões de habitantes. Talvez seja esta previsão que está levando o governo alemão a estar mais disposto a acolher até quinhentos mil migrantes por ano.

A história mostra que os migrantes são portadores de vida nova. De 1890 a 1910, os Estados Unidos receberam 17 milhões de migrantes. O país não seria o que é hoje, sem a expressiva colaboração dos migrantes, em sua grande maioria europeus. Eles querem viver. Eles podem ser bem vindos, se entendermos as lições da história.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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