romulo o texto literario

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Quando se fala em trabalhar textos locais, não se trata de querer negar o cânone literário, ou de querer, simplesmente, regionalizar o estudo com o estudo literário. Pelo contrário, trata-se de uma tentativa de aproximar o aluno da leitura fazendo com ele perceba que o que ele lê, é a sua própria realidade, coisa que outro texto (distante do seu cotidiano) não seria capaz de despertar. Caso dos livros didáticos que por vezes traduzem uma realidade que foge a vivência do aluno amazônida. Em alguns casos um estudante da zona ribeirinha conhece a literatura do sul do país, mas desconhece os principais autores da Amazônia brasileira como: Inglês de Sousa, Abghuar Bastos, Bruno de Menezes, Dalcídio Jurandir, Eneida de Moraes e Milton Hatoum. E os desconhece, primeiramente, pelo próprio desconhecimento de seu professor. E em segundo lugar, porque a literatura que aqui se produz não habita o considerado cânone literário por ainda ser considerada por muitos como literatura de margem ou de borda. Nesse sentido:

Estar à margem ou nas bordas também significa, entre outras semânticas, não ter passagem para a escola, o sistema central da educação escolar. Estamos, então, na borda com as literaturas que admitem os adjetivos infantil, oral, popular eregional, africana, indígena, feminina, de testemunho, entre muitas outras. E, muitos de nós, professores de literatura, além dos autores de livros didáticos, desconhecemos essas literaturas e por isso não temos como estabelecer diálogos intertextuais […]. E, o mais grave, quando conhecemos não estamos preocupados em discuti-las, inclui-las, valorizá-las, entronizá-las. Torcemos pelo homogêneo? (FARES, 2013, p.83).

Embora os saberes literários da Amazônia e de seus escritores não tenham o espaço devido que mereçam na sala de aula, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação ressalta a importância de incluir no currículo escolar essa experiência de textos que retratem a realidade do aluno. É nesse sentido que incluir o texto literário de expressão amazônica no cotidiano do aluno faz todo sentido. É pela experiência literária que o aluno não só aprende o conteúdo programático, mas se percebe enquanto individuo dentro da sua própria realidade no texto lido.

Trata-se de:

Apresentar uma proposta voltada para os alunos […], capaz de despertar o prazer da leitura partindo dos elementos culturais comuns aos alunos através de leitura e performance em sala de aula, favorecendo uma melhor recepção do texto literário para o desenvolvimento da consciência crítica dos alunos e uma maior valorização de sua identidade cultural (CRUZ, 2004, p. 79-80).

Quer-se, uma maior aproximação entre o texto literário, a realidade local do aluno e o gosto pelo texto de literatura possibilitando assim o desenvolvimento pleno da leitura do aluno partindo do mundo em que vive para a palavra que lê. Ideia essa já pensada desde a criação do livro Texto e pretexto: experiência de educação contextualizada a partir da literatura feita por autores amazônicos e que até hoje serve de inspiração para muitos professores.

Outro ponto de defesa a favor do texto literário de expressão amazônica seria o fato de este trazer para suas entrelinhas a oralidade presente nos contos e causos amazônicos que se ouve pelas bandas daqui.  Botos, boiúnas (cobra mítica da Amazônia), e outros seres devem, além de habitar o imaginário caboclo amazônico, também, habitar as salas de aulas. A este saber é necessário reservar espaço nos currículos das escolas da região.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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